BOA RESPOSTA

BÓA RESPOSTA

Felizes são as pessoas que não dependem da caridade alheia para sobreviver porque se a vida já é difícil quando se tem boa saúde, as dificuldades se multiplicam quando a doença chega e o pior é que a maioria das enfermidades vem para ficar; as doenças passageiras já complicam a vida dos pobres e as permanentes se tornam um motivo de desespero, para os ricos o sofrimento se restringe ao desconforto e dores inevitáveis, mas o bom atendimento médico com remédios que se pode comprar suaviza tudo.

Para Nenéca Jacinto a vida sempre foi difícil, os dias se sucediam e ela pensava que pior do que estava as coisas não poderiam ficar, mas sempre acontecia alguma coisa diferente que conseguia piorar tudo e ela agüentava as desagradáveis novidades sem reclamar porque sentar para chorar era perda de tempo e de energia, o jeito era encarar o mau jeito e se virar e foi o que ela fez quando seu filho Zequinha de oito anos apareceu com uma problema nos olhos, que o médico disse que era glaucoma.

Glaucoma faz a pressão dos olhos subir como um foguete em festa junina e para manter a cuja controlada é preciso o uso de um colírio de preço alto e inacessível para a pobre Nenéca; apavorada com a possibilidade do garoto perder a visão ela passou a pedir a ajuda da população da cidade de Passa Vinte onde vivia, mas a comunidade era pobre porque Passa Vinte era um lugar onde o desemprego era garantido, lá até que tinha um distrito industrial, mas industria que era bom não existia.

Nenéca se preocupou, rezou e chorou, mas a solução não vinha até que ela resolveu procurar as autoridades para pedir ajuda, procurou o senhor juiz e foi muito bem recebida, tomou um cafezinho e ouviu palavras de conforto e ganhou tapinhas nas costas, mas foi só porque a ajuda não veio e ela correu atrás de todos os graduados de Passa Vinte com o mesmo desanimador resultado, quando procurou o doutor Selizio ilustre prefeito do lugar Nenéca já estava bastante desiludida e zangada.

A prefeitura de Passa Vinte era um luxo só e ela pensou : aqui vou garantir o colírio do Zequinha, mas tomou um chá de cadeira de mais de duas horas esperando que o alcaide a atendesse e quando conseguiu falar com ele foi a maior decepção , o político matreiro adoçou a voz e disse: meus parabéns dona Nenéca é muito bom e bonito o que a senhora está fazendo, continue assim e a medida que falava ele a conduzia para a porta de saída do elegante gabinete, mas a esperada ajuda não aconteceu.

Furiosa a mulher se virou e respondeu: agradeço seu elogio seu prefeito e também lhe dou os parabéns porque pode não ser bonito, mas deve ser muito bom o que o senhor faz dando aquela parte do seu corpo para os seus amigos; foi um susto e as pessoas presentes ficaram estarrecidas com a audácia da mulher, ninguém encontrou palavras para socorrer o digno mandatário que estava vermelho como um tomate e a ponto de sofrer uma apoplexia fulminante, com a franqueza de Nenéca.

Depois do ocorrido e para calar a desabusada cidadã, os vereadores votaram em caráter de urgência uma lei que autorizava o executivo a pagar todos os meses uma ajuda de um salário mínimo para o menor Zequinha até a sua maioridade; com aquele cala-boca muito bem vindo, a destrambelhada criatura tratou de esquecer os divertimentos do mandatário de Passa Vinte e ocupava seu tempo cuidando do filho deficiente visual e principalmente de sua própria vida, que nada tinha de fácil.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 10/10/2008
Código do texto: T1222083
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