HISTORIA TRAGICOMICA

HISTORIA TRAGICÔMICA

A morte vem para causar tristeza, dor e lagrimas, mas as vezes essa situação muda de repente e o que era para ser luto se transforma em uma opereta de péssimo gosto, mas nem por isso menos engraçada; nos velórios das pequenas cidades do interior, o clima é eclético porque a família do falecido de debulha em lagrimas, enquanto os amigos vão mais pela boca livre do que pelo triste acontecimento e em Rolandia não era diferente.

Os velórios naquela cidade eram variados, os pobres serviam um pãozinho com mortadela e um gole de cachaça, mas os ricos serviam do bom e do melhor, doces e salgados finos e vinhos da melhor safra transformando uma ocasião que devia ser triste, em uma verdadeira festa e as pessoas compareciam em massa, ninguém queria perder as delicias servidas na ocasião, nesse caso o falecido era apenas um detalhe ignorado.

Havia honrosas exceções, porque pessoas existem que são merecedoras de todas as homenagens e de todo o respeito e esse era o caso de dona Isolda Paranhos, senhora muito rica porém caridosa que ajudava de todas as maneiras os desvalidos que procuravam por ela; já bastante idosa e doente dona Isolda faleceu em uma bela tarde de domingo e a comunidade muito triste se dirigiu á sua residência para o velório.

Como todos os outros Lucidio Moura não queria fazer feio, pediu a sua esposa para passar seu terno de linho branco, deu um polimento caprichado em suas botinas marrons, tomou um bom banho, se perfumou e partiu para lá carregando um enorme buquê de lírios; mas aquele não era um dia de bons presságios para o bem intencionado cidadão e tudo deu errado á partir do momento em que ele chegou ao elegante velório.

Logo na chegada ele chamou a atenção porque suas bem lustradas botinas guinchavam como se estivessem recheadas de festeiras ratazanas, atrapalhado com aquele ruído infernal se atrapalhou ao cumprimentar a chorosa filha da finada, e disse: estou muito triste com o falecimento de dona Isolda, receba meus parabéns, ao se dar conta da gafe ele não sabia o que fazer e as pessoas presentes quase não conseguiram conter o riso.

Passado esse vexame ele providenciou outro em seguida, quando se inclinou para orar pela morta e a pulseira de seu relógio se agarrou no véu que lhe cobria o rosto; puxando o braço para liberar o véu ele esbarrou em um grande vaso cheio de flores que veio abaixo se espatifando e espalhando água e flores por todos os lados, foi um grande susto e mais uma vez as pessoas conseguiram se conter e segurar o riso.

Muito envergonhado Lucidio se abaixou para apanhar os pedaços do vaso, mas escorregou e caiu derrubando uma enorme cruz de prata que ornamentava a sala sobre a urna mortuária, desesperado tentava se levantar e no esforço do momento um represado e estrondoso pum se libertou e encheu o local com um terrível mau cheiro, armou-se uma correria em direção a porta, as pessoas corriam e riam ao mesmo tempo, foi um horror.

A confusão foi tamanha que até os parentes da falecida corriam para fora do poluído ambiente e riam junto com os outros, a cidade de Rolandia jamais assistira a semelhante espetáculo; aproveitando o tumulto o causador daquele desastre saiu correndo, foi até sua residência avisou a família e ganhou o mundo, só voltou certa noite para levar sua mulher e filhos e nunca mais apareceu por aquela região.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 09/10/2008
Código do texto: T1220321
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