BAILANDO
BAILANDO
Na cidade de Rio da Lontra não havia quase nada para se divertir, nem clubes, nem um cinema e o povo achava normal aquele paradeiro, mas Ernesto não se conformava e dizia: cruzes esse lugar já morreu e não sabe, se contar ele deita; ninguém ouvia as implicâncias do rapaz e continuava todo na mesma, até que ele teve uma idéia que considerou brilhante, mas ao falar no assunto foi criticado por todos.
A reação daquele povo foi condizente com o sistema vigente que era a lei do menor esforço, ninguém queria saber de nada que exigisse suar a camisa e a idéia de Ernesto era cansativa só de pensar, imagine colocar em pratica tamanho absurdo e nesse ponto todos concordavam, mas ele insistiu até resolverem ouvir o que ele queria propor, marcaram uma reunião na prefeitura e o assunto foi colocado para avaliação de todos.
Ernesto então propôs a fundação de um clube de futebol, escolheriam jovens saudáveis para formar o plantel de atletas e ele seria o técnico porque passara os últimos meses estudando o assunto e já se considerava um perito; foram horas de discussão porque o anunciado projeto não era do agrado dos mais velhos, porque se seus filhos e netos quebrassem pernas, braços ou outra qualquer coisa o prejuízo seria deles.
Os jovens que viviam aborrecidos sem nada de alegre para fazer, se agradaram e muito da idéia, mas como dependiam de seus pais e avós para tudo, ficaram com receio de dar apoio a novidade e arranjarem problemas em casa, todos concordaram que o melhor a fazer era se reunirem novamente no dia seguinte para rediscutir o assunto e talvez quem sabe chegar a um acordo satisfatório para todos; os presentes concordaram.
O dia seguinte era um domingo, depois de assistir a santa missa e
tirar uma boa soneca depois do almoço, a comunidade se reuniu novamente na prefeitura voltou a discutir o polemico assunto do clube de futebol; falavam todos ao mesmo tempo e não conseguiam chegar a um acordo até que o respeitado padre Ludovico se cansou da bagunça, pediu silencio e disse: agora chega, esporte é uma coisa boa e eu aprovo a idéia.
Acabou o problema, pois se o senhor vigário aprovou ficou aprovado e todos comemoraram a decisão, mas padre Ludovico exigiu que os atletas se vestissem decentemente, que ele não queria saber de homens quase nus correndo atrás de uma bola e afrontando a moral e os bons costumes do puritano lugar com pernas e peitos descobertos, decidindo que o modelo dos uniformes seriam apresentados a ele antes de serem usados.
Três conjuntos de uniformes foram apresentados ao exigente vigário e foram recusados por ele; já desanimado Ernesto mandou seus atletas se vestirem com calças sociais pretas, camisas brancas, gravatas borboletas negras e os apresentou ao padre dizendo: o que o senhor acha? está bom assim? aquilo era um brincadeira, mas recebeu a seguinte resposta: agora você acertou está ótimo, decentes e elegantes, gostei.
Para completar o velho sacerdote disse: só falta um nome condizente com esse uniforme e vou resolver isso agora, será o Clube de Futebol Cata Baile, podem começar os treinos; o jeito foi acatar a decisão do velho sacerdote porque se ele mudasse de idéia o futebol acabaria na hora , pois o povo da cidade sempre acompanhava as decisões de padre Ludovico e assim os treinos começaram com decência e elegância.
A roupa inadequada para a pratica do esporte chamava a atenção de toda a região, agremiações das cidades vizinhas passaram a convidar o Cata Baile para animadas disputas, mas eles antes de confirmar presença perguntavam se teria baile depois do jogo e se a resposta fosse negativa não aceitavam o convite; apesar dos trajes eles eram ótimos jogadores e raramente perdiam um jogo, foram campeões de vários torneios e jamais foram esquecidos pelos seus fieis torcedores.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA