DESNECESSÁRIO
DESNECESSÁRIO
Comer é um prazer e uma necessidade para todos, mas se todas as pessoas comem o gosto de um não é o mesmo de outro e na escolha da comida a variedade é enorme, o que é bom e gostoso para uns é ruim e desagradável para outros; na verdade gosto não se discute e não importa se é um prato de jiló ou um enorme filé, tudo se torna ótimo dependendo do paladar das pessoas, o que prova que nada é bom ou ruim para todos.
Essa historia de comida é porque me lembrei do acontecido com minha prima Renata; ela já passava um pouco dos trinta anos e seu sonho era arranjar um marido antes de entrar na casa dos enta, porque ela sabia que depois dos enta fica difícil demais conseguir um pretendente, mesmo para um figura bonita e simpática como ela e nessa pressa de se casar ela partiu para a caça usando todas as armas disponíveis no momento.
Foi a uma boutique na capital do estado e tomou um verdadeiro banho de loja, comprou um coleção primavera verão inteirinha, para cada roupa adquiriu um par de sapatos e uma bolsa combinando; depois se dirigiu a melhor perfumaria da cidade e comprou todos os produtos de beleza já inventados, cuidou da pele, cabelos, pés e mãos e para completar a metamorfose procurou uma academia e acabou com toda gordurinha.
Voltou para sua cidade do interior e se exibia toda bem arrumada, cheirosa e muito bem vestida e calçada, mas nada do candidato a marido aparecer; ela mudou de tática e passou a freqüentar a igreja com ares inocentes e piedosos pensando que aqueles solteiros já quarentões se interessassem por uma moça tão recatada e bem comportada, fracassou novamente, os velhotes estavam interessados em meninas na flor da idade.
Já entrando em pânico Renata foi se aconselhar com sua sabia avó, a velha senhora lhe disse: minha neta de verdade mesmo os homens se interessam apenas por uma comida bem feita: beleza, elegância e bom comportamento são acessórios; aprenda a cozinhar, prepare boas refeições e convide os rapazes para almoços e jantares bem preparados que vai conseguir um bom marido, ela seguiu o conselho da idosa senhora a risca.
Quando se sentiu preparada na arte culinária ela convidou o doutor Fredolino para jantar, preparou com capricho um frango ao molho pardo acompanhado por um angu cremoso e um suflê de xuxú divino e para encerrar com chave de ouro a excelente refeição um maravilhoso sorvete de umbu; o convidado chegou e logo o jantar foi servido, ele se serviu apenas do frango e ela disse: aceita um pedaço de angu doutor Fredolino?
Ele respondeu com todas as letras: sabe Renata eu não como nada que termine em u e acho angu um prato desnecessário; a coitada quase desmaiou porque do prato principal até a sobremesa lá estava presente o malfadado u e para tornar maior o vexame o angu terminava em u e era considerado desnecessário; o fracasso do jantar foi acompanhado do naufrágio dos sonhos casamenteiros da moça, ela desistiu e entrou nos enta.
A casa dos enta tem porta de entrada e não tem saída, é só subida e com Renata quanto mais a idade avançava menos esperança de casamento; depois do fiasco culinário ela parou de tentar e como o esperado não acontece ela pode contar com o inesperado, já bem avançada em entas ela se casou com o inimigo do u, foram felizes porque em sua casa cozinhar dependia da eliminação da detestada letra e ela sabia muito bem disso.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA