Ana e o Mar
Chamava-se Mariana, mas não gostava. Achava o nome grande e, por isso, preferia ser chamada apenas por Ana e assim era conhecida. A única coisa da qual gostava no nome era a junção do seu nome preferido e da palavra "Mar". "Mar" para ela era mais do que uma palavra, era uma segunda casa.
Passava os dias, as tardes e as noites na praia. Observava os barcos,pranchas e rostos irem e virem. Cada dia um novo céu, um novo sol e Ana se sentia bem por isso. Os que freqüentavam a região não estranhavam: estranho era chegar e não encontrar Ana sentada na areia observando tudo, conversando com quem conversava com ela.
Em uma dessas conversas,conheceu um rapaz que ali visitava. Riram, descobriram semelhanças e por um momento que pareceu eterno, Mariana começou a se apaixonar. A paixão aumentava a medida que se conheciam dia a dia. Entretanto, mesmo com tantas coisas em comum, o que mais destoavam eram as expectativas. Ela, simples e despretenciosa, queria apenas o necessário para viver. Não queria morar longe da vila que tanto amava,pois sabia que muita gente trabalha a vida inteira para somente no final de suas vidas conseguirem o que ela sempre teve.Já ele tinha muitos planos. Pensava em viajar, trabalhar muito e ganhar dinheiro em dobro. Quem sabe até correr o mundo, quando tivesse tempo.
Por esta razão, combinaram não pensar nisso: a vida já é tão complicada por si só...
E foram felizes assim por muito tempo, entre muitos céus e muitos sóis, até que a oportunidade da vida dele apareceu e ele não deixaria passar. Nem por ela, nem por ninguém. Não por falta de amor, mas não se deve desperdiçar uma oportunidade por ninguém. Não queria (quem sabe) culpá-la num futuro talvez não muito distante por não ter perseguido tal oportunidade. Ela, pelo mesmo motivo, não partiria com ele. Amavam-se demais para deixar o arrependimento ficar entre eles.
Na noite anterior a partida, amaram-se, trocaram confidências, declararam-se e prometeram não perder nunca o contato, independente de tudo. Não queriam que amanhecesse, mas não há como fugir do inevitável e conseguiram manter contato e surpreendentemente, o amor, por mais tempo do que esperavam. Porém, um dia amanheceu com uma carta dele. Em muitas páginas, agradecia pelo amor, pelas lembranças e momentos. Esperava encontrá-la novamente numa outra ocasião, quando ela sentisse que poderia perdoá-lo. Sabe como é, às vezes as pessoas aparecem na nossa vida e é impossível não amá-las.
Ana leu a carta e conseguiur manter os olhos secos, quando na verdade a vontade de chorar apertava no peito. Mas ao invés disso, dormiu. Não sonhou com nada; apenas fechou os olhos e apagou. Esse foi um dos poucos, ou talvez o único dia no qual os moradores da região não a viram brincando na beira do mar. Acordou no dia seguinte, quando os primeiros raios de sol bateram em sua janela. Decidida, abriu a porta e respirou fundo. Inspirou o ar que tanto a revigorava e andou calmamente em direção a praia.
A areia começou a entrar entre seus dedos e a afundar sob seus pés a cada passo dado. Sorria e seu sorriso era triste. Disfarçava mal a tristeza,mas ninguém estranhou quando Ana fechou os olhos e abriu os braços devagar. Molhou os pés na primeira onda e entregando-se ao vento, continuou em direção a imensidão azul que tanto amava. Não parou nem quando começou a deixar de sentir firmeza abaixo de seus pés. Sorria o mesmo sorriso triste durante toda a caminhada e as únicas lágrimas que rolaram de seu rosto logo se misturaram com a àgua salgada do mar. Este, por sua vez, recebeu Ana com uma onda alta e como se a abraçasse, a tragou. E foi assim que tornaram-se um só: Ana e o Mar, Mariana.
Inspirado na música "Ana e o Mar", do grupo O teatro Mágico
7/10/08