MULHER MUITO BRAVA
MULHER MUITO BRAVA
As pessoas vem e vão desse mundo, mas são sempre diferentes umas das outras e por mais que se procure alguma semelhança mesmo entre parentes não se encontra, na parte física as pessoas podem até serem parecidas, mas nos sentimentos e no modo de agir serão sempre como uma ilha, cada um tem seu jeito especial de proceder e Joana Teixeira não era diferente; ela tinha vários irmãos e não se parecia em nada com eles.
Os irmãos de Joana eram pessoas calmas, bem educadas e agradáveis, ela era mal humorada, agressiva e desagradável; suas quatro irmans eram moças bonitas e elegantes, ela era a mais velha e menos bonita que as outras; naquela época as famílias casavam suas filhas em ordem decrescente começando pelas mais velhas e quando apareceu um candidato a marido, a noiva indicada foi a Joana e tudo foi acertado.
As irmans de Joana não apareciam quando o noivo dela fazia sua visita semanal e como ele morava na zona rural nunca vira as demais moças da família, mas dois meses antes do casamento ele chegou de repente e viu Ana a mais jovem de todas e se encantou por ela, a menina só tinha dezesseis anos e era linda, o noivado com Joana foi desfeito e o casamento com a mais jovem foi marcado para desgosto da mais velha.
Para maior revolta o enxoval que já estava pronto foi passado para a jovem Ana; de mal humorada e rude a moça se transformou na representante do próprio capeta, ela tinha vinte e dois anos quando tudo isso aconteceu e chegou aos trinta sem conseguiu outro noivo, mas ela se vingava atormentando a família com suas grosserias e eles pediam em constantes novenas que Santo Antonio lhe arranjasse um marido por favor.
E rezaram com tanta fé que as preces foram atendidas e o solicitado noivo apareceu, era um senhor com mais de cinqüenta anos, viúvo e com dois filhos de brinde, mas ela aceitou e o casamento foi realizado; a raivosa criatura até que deu uma boa esposa, cuidava da casa e dos meninos que herdou e de mais três filhos seus, mas continuou uma pessoa de mal com a vida e o mundo, todos temiam seus ataques de fúria, até o marido se calava.
A trancos e barrancos a zangada Joana criou os filhos, todos se casaram e foram cuidar de suas vidas; quando o idoso marido morreu ela ficou só e cheia de manias, uma delas era desconfiar que as pessoas roubavam suas coisas e arranjava brigas por causa disso, sua ultima briga foi com a neta de uma sua irmã, por causa de um apreciado romance de Alexandre Dumas que se chamava A dama das camélias e aconteceu assim.
As casas tinham as portas sempre abertas pois não havia ladrões, Hortência a mocinha entrou e não encontrou a tia em casa, pegou o famoso livro e foi para sua casa , assim que ela saiu Joana voltou e deu falta do romance e começou a gritar: vestígios de ladrão de casa, quem roubou meu livro? E foi se agitando e gritando, de repente levou a mão ao peito e caiu; os vizinhos acudiram e viram que ela estava morta, morrera de acordo com seu modo de ser: de raiva.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA