O VIUVO COBIÇADO

O VIUVO COBIÇADO

Minha avó dizia que no dia em que nascemos começamos a morrer, essa é uma verdade verdadeira que todos nós sabemos, mas fingimos não saber porque viver é uma coisa tão boa que não vale a pena pensar na morte; pensando ou não ela vem e nos leva em um minuto e alguém estará só e triste pois se os nascimentos nos causam alegria, a morte só nos dá tristeza e se as duas coisas são naturais deveriam serem aceitas igualmente.

E assim foi quando dona Lalica morreu, idosa e alegre era uma pessoa amada e respeitada não apenas pela sua família, mas por toda a comunidade da cidade de São João do Alegre porque ela alfabetizou três gerações de moradores do lugar, seu velório e enterro foram dos mais concorridos já vistos naquela cidade, pois mesmo aposentada ela participava de todos os acontecimentos alegres ou tristes.

Os dias passavam e a tristeza pelo seu falecimento não diminuía e todos diziam: que falta vai fazer dona Lalica, se para os amigos a dor e a saudade eram grandes pode-se imaginar os dias penosos que sua família enfrentava e todos respeitavam seu luto, naquela casa o choro era uma constante, ninguém sentia fome e nem sono e o cansaço era geral, mas afinal chegou o sétimo dia e toda a população compareceu a missa.

Terminada a triste missa de sétimo dia e depois de receberem os cumprimentos dos amigos a família voltou para casa e todos se recolheram para tentar dormir e descansar e ai o improvável e absurdo episodio aconteceu: a campainha da porta tocou e a filha da falecida se levantou e foi atender, era a conhecida Violetinha viúva já por duas vezes, velha e ridícula personagem muito conhecida por seu apego aos homens.

Apesar do horário impróprio, Julio o recente viúvo veio atender a inesperada visita que apresentou suas condolências e disse: sabe Julio eu também sou viúva e tenho uma pensão muito boa que meu primeiro marido me deixou, sei que você tem uma boa fazenda e essa sua casa é muito grande, como fomos namorados por uns dias na nossa mocidade eu vim aqui perguntar se você quer se casar comigo, podemos ser muito felizes.

O desolado viúvo e sua filha tomaram um susto tão grande com aquela proposta inusitada e desrespeitosa, que ficaram mudos por alguns minutos e ao se recuperar a zangada filha abriu a porta e disse: nos dê licensa que precisamos descansar e vou agradecer muito se a senhora nunca mais voltar aqui, se dê ao respeito e respeite o sofrimento dos outros sua velha assanhada, onde já se viu uma coisa dessas sua ave de rapina.

A criatura se retirou e no dia seguinte espalhou pela cidade que foi maltratada sem motivo algum na casa de Julio, mas quando a verdade apareceu a população se revoltou contra ela, onde aparecia era ridicularizada e ofendida por todos, mas ela agüentou por bastante tempo a situação, até que seus filhos perderam a paciência com tanto vexame e a obrigaram a se mudar pra outra cidade, onde ela continua a ingrata tarefa de procurar um marido.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia

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Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 07/10/2008
Código do texto: T1216614
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