PACHOLA
PACH0LA
Figura fácil de ser encontrada nas ruas da cidade de Bartira, Eliseu Dias era totalmente diferente dos demais homens daquela pequena comunidade; em geral as pessoas eram simples e se vestiam com simplicidade, tudo de acordo com o modo de viver de um povo que vivendo na cidade conservava os hábitos da zona rural a qual pertencia.
O cheiro da roça cobria tudo, porque as fazendas e sítios que cercavam a cidade estavam sempre muito perto, as mais distantes ficavam a pouco mais de quatro quilômetros do centro urbano; essa proximidade moldava o jeito de se vestirem e até de falar pois o povo falava macio mastigando os erres e até engolindo alguns, era o costume e era bom..
Naquele viver meio urbano e meio rural, era a praticidade que valia e ninguém se interessava por modismos, porque as cidades grandes estavam longe e as modas de lá não chegavam cá; era o império das calças de brim e camisas de tricoline xadrez para os homens e vestidos de algodão de cores alegres para as mulheres, todos tinham uma roupa melhor e era só.
Mas para o cidadão Eliseu Dias não era bem assim, ele achava que mesmo em Bartira as pessoas deviam e podiam se vestir com uma certa elegância; ele vivera alguns anos em uma cidade maior e se considerava muito entendido em moda masculina, dizia que o povo precisava aprender com ele a se vestir bem, mas as pessoas apenas riam de suas idéias.
Era para rir mesmo, porque se manter de terno completo, gravata de seda, chapéu panamá e botinas de verniz, naquele lugar modesto e com um clima quentíssimo era mesmo cômico, ele não se importava com as brincadeiras e com o falatório quando passava todo alinhado rodando uma bengala de cana da índia e espalhando um perfume fortíssimo.
Os anos foram passando, Eliseu envelhecia e junto com ele envelheciam suas bem acabadas roupas, ele tinha muita pose e pouco dinheiro o que o impedia de renovar seu elegante guarda roupa; o povo de Bartira não gostava de suas maneiras e lhe deram o apelido de Pachola, com o passar do tempo ninguém se lembrava de seu nome verdadeiro.
Velho, abandonado e doente ele passou a andar pelas ruas pedindo ajuda, todos ajudavam com um prato de comida, uns trocados e peças de roupas usadas, mas com todos os problemas ele não perdia a elegância e mesmo vestindo roupas simples e velhas, não dispensava o uso da velha e esfarrapada gravata de seda, e dizia: posso viver sem camisa, mas nunca sem minha gravata; ninguém em Bartira seguiu seu exemplo, continuam simples e despojados como sempre foram e cada vez mais felizes.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA