FLORISBELA
FLORISBELA
Lá vai Florisbela balançando os quadris, parece que vai perder o traseiro de tanto que rebola, ela era a alegria das ruas de Porto Seco e quando passava levava com ela os olhos de jovens, idosos e até das mulheres: os homens olhavam com admiração e as mulheres com raiva e inveja porque era muita beleza para pouca estatura, Florisbela era baixinha, mas seu buliçoso traseiro compensava e recompensava.
De tanto se pavonear pelas ruas, a jovem não tinha tempo para estudar ou trabalhar e se tornou uma pessoa vaidosa e inútil, ela vivia para se enfeitar, se exibir e receber elogios, mas ninguém sobrevive de galanteios e sim de coisas prosaicas como comida por exemplo; enquanto seus pais viveram a moça não tinha com o que se preocupar, seu sustento era garantido pelo pai marceneiro e pela mãe costureira e nada lhe faltava.
Todos os rapazes da cidade se encantavam com a beleza e o rebolado de Florisbela, mas na hora de escolher uma esposa eles preferiam as menos belas, mais trabalhadoras e menos vaidosas; a razão estava do lado deles porque companheira para uma vida , tem que ter outros valores além da beleza; precisa estar preparada para ser esposa e mãe e isso exige sabedoria, prendas domesticas como cozinhar, costurar e outras coisas.
Por mais que sua mãe aconselhasse e seu pai se zangasse, ela não tomava jeito, passava horas diante do espelho se embonecando e depois saia para ouvir os costumeiros elogios que não rendiam nada; convidada para todos os casamentos, Florisbela era sempre a mais linda da festa mas nunca a noiva, com o passar do tempo sua beleza foi diminuindo, olhares de admiração e elogios sumindo, de repente ela descobriu que estava só.
Suas irmãs e amigas estavam casadas, ocupadas com maridos e filhos não tinham tempo para ela, sozinha e com mais de trinta anos ela tentou reverter a situação, começou o aprendizado de tarefas domesticas, mas tinha dificuldades para aprender o básico de culinária e demais afazeres de uma casa, fazia tudo errado e dava credibilidade aquele velho, sábio e popular ditado que diz: burro velho não aprende marcha nova.
Passavam-se os dias e nada de aparecer um candidato a marido para Florisbela, sua fama de inútil e vaidosa depunham contra ela e para piorar a situação seu pai e sua mãe falecerem com poucos meses de diferença um do outro; sem cultura, sem profissão e pobre foi obrigada a pedir ajuda as irmãs, mas seus cunhados não ficaram nem um pouco satisfeitos com aquela nulidade em suas costas, mas aceitaram o sacrifício.
De objeto de desejo e admiração passou a ser um encosto, porque continuava se enfeitando e procurando marido, mas trabalhar nunca trabalhou e marido também não conseguiu; se tornou uma solteirona amarga e eterna dependente de suas irmãs, para desespero de seus cunhados e com o corpo descansado viveu muito, servia de exemplo para as jovens que se mostravam vaidosas e preguiçosas , suas mães diziam: meninas olha a Florisbela, beleza só não enche barriga e nem arranja marido, se cuidem e fiquem espertas.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA