SEM LICENÇA

SEM LICENÇA

Todos os lugares do mundo tem seus tipos diferentes do normal, não são loucos são apenas exóticos e se forem tratados com respeito e caridade cristã vivem suas vidas em paz e harmonia com todos, mas na cidade de São Firmino isso era impossível de acontecer porque a caridade e o respeito com esses infelizes não existia, se alguém apresentava um comportamento ou uma mania diferente, se tornava de imediato motivo de brincadeiras de mau gosto dos cidadãos do lugar, ninguém se apiedava.

O alvo preferido dessas brincadeiras era um homem chamado Antonio de Souza, vindo do distrito de Banhado ele não incomodava ninguém, andava pelas ruas pedindo ajuda, era ajudado e ficava tudo bem, até que algum desocupado perguntava: oi Tonho Sem Licença já matou alguém hoje? Era o bastante para começar a confusão, o coitado se enfurecia e dizia: meu nome é Antonio de Souza e não mato gente seu cão.

Daí para frente choviam os piores palavrões já inventados e ele continuava dizendo: eu não sou Sem Licença, meu nome é Antonio de Souza seu desgraçado, eu sou uma pessoa de muita licença, peço licença para tudo e não ofendo ninguém, mas os vadios não desistiam e todos os dias acontecia a mesma cena triste e desagradável; as autoridades tentavam evitar aqueles transtornos diários , mas ninguém colaborava.

A maioria dos moradores de São Firmino apreciava o pobre Antonio e o confortava depois daquelas arruaças, pediam a ele para ignorar as brincadeiras sem graça e tentar viver em paz com seus amigos, ele prometia não se zangar nunca mais e a promessa durava pouco, só até ser chamado de Sem Licença novamente, ele perdia a calma e acontecia o costumeiro escândalo, era um mal sem cura e ninguém colaborava.

Foram muitos anos de divertimento para muitos e sofrimento para o pobre Antonio de Souza; com o passar do tempo a insanidade do infeliz foi se agravando e a situação se agravou quando ele começou a agredir as pessoas fisicamente, mas fraco como era suas agressões só aumentavam as risadas dos desumanos brincalhões, e isso aumentava seu sofrimento e humilhação; as pessoas sensatas advertiam que aquilo ia acabar mal.

Dia vai, dia vem e as coisas sempre na mesma: os vadios atormentando o Sem Licença e ele se descontrolando cada vez mais; uma tarde depois da missa a Praça da Matriz estava cheia de gente que conversava, namorava e se divertia em paz quando alguém disse: oi Tonho Sem Licença envenenou sua mãe hoje? ele apanhou uma pedra e atirou.

A pouca sorte de Antonio desviou a pedra do alvo e acertou a cabeça da filha do prefeito da cidade, a moça caiu desmaiada e o coitado foi preso na mesma hora, felizmente o ferimento foi pequeno e logo a jovem se recuperou, mas era preciso resolver aquele assunto de uma vez por todas antes que acontecesse coisa pior; o prefeito não queria cometer uma injustiça, mandou soltar Antonio da cadeia e foi pensar a respeito.

Prender todos que mexiam com o homem era impossível, pois nada está previsto em lei sobre isso, mas manter Antonio na cadeia também não estava certo porque ele não era um criminoso, as autoridades se reuniram e decidiram enviar o infeliz de volta para o distrito de Banhado com ordem de nunca mais voltar a cidade de São Firmino; ele foi embora e nunca mais voltou porque a corda arrebenta sempre do lado mais fraco.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 04/10/2008
Código do texto: T1211967
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