IRMÃO JOÃO E O PÉ DE FEIJÃO

IRMÃO JOÃO E O PÉ DE FEIJÃO

(uma fábula verdadeira)

Era uma vez em uma terra não muito distante, uma pobre viúva e seu único filho. Um dia ela o chamou e disse-lhe: “João, acabou o dinheiro e a comida. Vá até à cidade e venda nossa vaquinha, pois é o único bem que nos resta. Não temos mais nada para sacrificar, só um milagre pode nos ajudar agora. Já fiz de tudo: tomei banho com água do rio Jordão e com sabonete de extrato de arruda, plantei uma roseira ungida, andei pelo corredor de sal grosso, recebi a oração dos ‘318 duendes’ (ou seriam doentes), fiz quebra de maldição pensando em não quebrar financeiramente, fiz cura interior para poder ‘perdoar Deus’ e paguei todas as prestações do meu carnê de contribuição ‘Colunas na Casa de Deus’, e nada adiantou!”

Então João pegou a vaquinha e foi sacrificar sua última esperança. Foi quando encontrou pelo caminho um senhor que tinha a aparência como de um anjo, e que lhe fez a seguinte proposta: “Tenho aqui três feijões mágicos chamados: Pai, Filho e Espírito Santo. Com eles você terá a resposta para tudo aquilo que você precisa (não para tudo aquilo que você deseja). Estes feijões te darão: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança, domínio próprio e acima de tudo perdão e salvação.”

Ele voltou saltitante de tanta alegria, pois tinha certeza de que havia encontrado a pérola de grande valor, havia encontrado um tesouro escondido. Não esperava a hora de contar estas boas novas para sua mãe e para todos que encontrasse pelo caminho.

Mas quando chegou em casa, para sua surpresa a notícia trouxe mais tristeza do que satisfação. Sua mãe queria uma resposta para esta vida, não para uma vida posterior, já que as pessoas só acreditam no milagre quando vêem o santo, e só querem resolver seus problemas, não os dos outros.

Ela ficou furiosa e gritou com seu filho: “Como vou viver como uma Rainha? Como vou viver como filha do Rei? Como vou viver segundo as ‘profecias’ que recebi da irmã Maricotinha? Como? Com um filho burro como este que tenho!!!”

Como castigo ela o trancou dentro do quarto e o obrigou a assistir a todos estes programas “evangélicos” de testemunhos que passam na televisão, e jogou fora os três feijões pela janela.

Mas aquelas sementes caíram em boa terra, que cresceram e se fizeram árvores, e em seus ramos se aninharam as aves do céu.

Deus dá aos seus enquanto dormem, e João dormia tranquilo, pois sabia que aquelas sementes ele havia conseguido não com sacrifício, mas com FÉ.

Quando acordou ele viu uma enorme árvore, que fazia sombra aos cansados e produzia frutas para alimentar os famintos. Ele a chamou de GRAÇA, mas quanto mais ele olhava, mais ele se espantava: como pode ser a GRAÇA tão grande, tão enorme?, pensava.

João tentou medir a GRAÇA e começou uma árdua tarefa, escalando, subindo, pois ele não sabia que a GRAÇA só pode ser medida de cima para baixo, não de baixo para cima, já que suas raízes não nascem na terra, porém no Céu.

Mas algo interessante acontecia: quanto mais ele se esforçava, menos a jornada rendia. E quanto mais ele descansava, mais a jornada rendia. Ele resolveu então se deitar em suas folhas e deixar que seus ramos o levassem ao seu destino.

Quando chegou ao topo, João ficou maravilhado com tantas coisas belas que encontrou lá: gente de todas as raças, cores e crenças cantavam alegremente, livres de todos os jugos, dores e preocupações de lá debaixo.

As ruas eram de ouro, o mar de cristal, os muros de jaspe e os portões de pérolas. E o sol de JUSTIÇA.

Mas ele observou ao longe algo que destoava daquele lugar, um CASTELO. De repente se aproximou dele uma linda mulher (poderia ser uma ANJA, mas ANJO não tem sexo!) e se apresentou: “Meu nome é AMOR.” E lhe perguntou: “O que aflige seu coração, João?”

“O que é aquele castelo e quem mora lá?”, ele perguntou, intrigado por pensar que havia pessoas ricas e abastadas ou de outra classe social naquele lugar.

“Não se preocupe, aquilo que você vê é só o JOIO, plantado pelo inimigo. Aquele castelo se chama IGREJA e quem mora lá é um gigante malvado da tribo dos Apostozeus conhecido como APÓSTOLO. Ele pensa que é grande, mas é o menos importante aqui. Ele pensa que manda, mas se esqueceu que quem manda aqui é aquele que serve.”

Curioso como só ele, João resolveu então fazer uma visita para tirar suas dúvidas. A caminhada foi muito difícil, pois teve que caminhar toda estrada da RELIGIÃO, percorrer o abismo dos RITUAIS e atravessar as pontes dos DOGMAS e das DOUTRINAS.

Quando chegou, percebeu um grande letreiro de néon na porta de entrada, carros importados na garagem e uma enorme livraria, onde se encontravam livros que explicavam até quem foi o pai de Deus. E mais de mil e uma fórmulas de como ser bem sucedido lá embaixo. Mas o que mais chamou sua atenção foi uma enorme torre de um canal de televisão sobre o telhado do castelo.

João entrou e ficou de espreita, quando observou o gigante vindo elegantemente vestido num colossal terno Armani. Ele sentou-se em sua enorme poltrona, que mais parecia um trono, e chamou seus súditos (ou membrezia, ou como queiram chamar) e pediu (aliás, ordenou): “Tragam a galinha que bota ovos de ouro e a harpa que canta!”

Trouxeram a gaiola e a harpa e colocaram em cima da mesa (ou seria altar). João observou que o nome que estava na gaiola na qual a galinha estava presa era DIZÍMO, e o nome que estava entalhado na harpa cantante era UNÇÃO LEVÍTICA.

O gigante gritava então à galinha: “Bote um ovo de ouro agora, senão eu te amaldiçoo!” E a galinha temerosa botava um ovo. Cada vez que ele gritava, ela botava um ovo maior ainda.

Ele gritava então à harpa: “Cante um canto ‘profético’ senão eu te amaldiçoo!” E a harpa punha-se a cantar sem parar, às vezes repetidamente a mesma canção, até o gigante entrar em transe.

João se compadeceu daquela situação e pensou: “Vou esperar, e quando o gigante cochilar, vou pegar a galinha dos ovos de ouro chamada DIZÍMO e a harpa chamada UNÇÃO LEVITÍCA e vou dar no pé.”

O gigante estava exausto, pois havia acabado de participar de uma MARCHA PROFÉTICA por todo seu território. Pegou logo no sono. Como aquele ditado “a ocasião é que faz o ladrão” se aplicava a todos ali, João pegou a galinha e a harpa e saiu em disparada. Mas ao correr a galinha cacarejou e a harpa soltou um som.

O gigante despertou e gritou: “Quem roubou minhas fontes de renda?!” Ele viu João correndo e quis correr atrás, mas como estava com a pança cheia depois de ter comido demais na CEIA DOS OFICIAIS, não conseguiu correr e alcançá-lo.

João desceu rapidamente daquela enorme árvore, e gritou para sua mãe: “Traga logo o machado afiado o qual eu chamo de VERDADE!” E cortou o tronco da árvore chamada GRAÇA. Mas cortou só o suficiente para que depois ela brotasse, crescesse e florescesse novamente.

O gigante despencou lá de cima, do lugar onde “ele” construíra, e espatifou-se como Judas lá embaixo.

João ficou tão feliz por ter escapado de tamanha tribulação, que libertou a galinha que botava ovos de ouro chamada DIZIMO. Antes mudou seu nome para COMPAIXÃO, mas ela não quis ir embora, e ficou botando ovos para quem era agora seu verdadeiro dono. À harpa chamada UNÇÃO LEVITÍCA, ele permitiu que cantasse somente aquilo que estivesse em seu coração, e também mudou seu nome para ADORAÇÃO.

Em gratidão por ter livrado aquele lugar do gigante (mais malandro do que malvado) os habitantes lhe permitiram que batizasse também aquela cidade. João então a chamou de LIBERDADE.