ZÉ

Zé

O delegado Zurico era um homem muito ocupado e além de seus afazeres como delegado e eletricista da Vila de São João, tinha que cuidar de seu cunhado Zé e essa era a parte mais difícil de suas atribuições, porque o rapazinho era travesso, criativo, irrequieto e extremamente divertido.

Na escola ele não parava quieto um minuto e as professoras desesperadas se queixavam ao delegado que ia as contas com o danado do Zé e apesar do enorme respeito que tinha pelo bravo cunhado ele não se emendava e as queixas continuavam; eram inteligência e criatividade demais para ficar quieto.

Durante o crescimento do menino, a luta para disciplina-lo foi uma constante, mas o tempo passou e de repente Zé estava crescido, era alto, pele clara e lindos olhos azuis, com seu cabelo liso e meio alourado se tornou um adolescente muito bonito e simpático, mas só a aparência mudou.

Como as travessuras do agora rapazinho continuavam o delegado resolveu que era hora de arranjar uma ocupação para ele, como o rapaz não quis escolher uma profissão, ele escolheu e disse: vou arranjar um lugar para você na alfaiataria do Zico e por favor não me invente modas, ouviu?

Ouvir Zé ouviu, mas passar sem uma molecagem era contra sua natureza e como a muito tempo ele deixara o cabelo crescer, estava armado para a primeira brincadeira, e foi assim: o primeiro dia de aprendizado correu bem, ele passou o tempo chuleando um pedaço de pano a mando do chefe.

Durante uma semana Zé se comportou lindamente, o delegado passava um vez ao dia na alfaiataria e perguntava ao Zico como estavam as coisas e ele respondia: o Zé está se comportando muito bem e aprende tudo rapidamente, ele vai ser um ótimo profissional; Zurico ia embora todo feliz.

Uma manhã o dono da oficina saiu um pouco e quando voltou encontrou a maior bagunça, os alfaiates não estava trabalhando e rolavam de tanto rir, ele entendeu na hora a causa do tumulto: era o Zé que trançava e destrançava os longos cabelos, desfilando aos requebros pela oficina toda.

Com a chegada do patrão todos se acomodaram e voltaram ao trabalho, Zico foi contar ao delegado Zurico o ocorrido e pedir providencias, o delegado ficou muito zangado, levou Zé ao barbeiro e mandou raspar todo o cabelo com maquina zero e pensou: assunto resolvido, quero ver tranças sem cabelo.

Mais algumas semanas se passaram e Zico foi procurar o delegado e contou: Zurico o Zé é muito inteligente e aprende rápido, mas está tumultuando a oficina novamente, você tem que dar um jeito nele, agora sem cabelo ele bate as orelhas e a turma para de trabalhar para rir, é uma bagunça atrás da outra.

O zangado delegado se segurou para não cair na risada e disse: olha amigo Zico, você reclamou das tranças do Zé e eu resolvi o assunto raspando a cabeça dele, mas agora ficou difícil porque não posso cortar as orelhas dele, só tem um jeito de resolver isso: você avisa que vai despedi-lo que ele se aquieta, porque adora você e sua alfaiataria.

E assim foi.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA