ANJOS DE CARA SUJA

ANJOS DE CARA SUJA

O respeito pelo clero sempre foi uma constante na vida daquela comunidade profundamente católica, os vigários eram ouvidos em todas as circunstancias e ficavam sempre com a ultima palavra, o povo de Cruz dos Anjos costumava dizer: Seu padre falou fica falado e era o ponto final.

As vezes as pessoas se cansam de sempre dizer e fazer as mesmas coisas, mudam de lado e procuram coisas novas, esperando encontrar nas novidades a alegria e satisfação que já não encontravam nas antigas; isso acontece em todas as áreas de convivência humana, até na religiosa.

Na cidade de Cruz dos Anjos não foi diferente, algumas pessoas se aproximaram de igrejas novas e passaram a cantar salmos no lugar de hinos, claro que o padre que dirigia a paróquia na ocasião, não gostou nada de ver alguns de seus fieis em debandada e procurou maneiras de segura-los.

Enfeitou melhor sua igreja, providenciou um grupo de músicos para abrilhantar as cerimônias, fez novenas festivas para o padroeiro da cidade e lindas prossições, mas as deserções continuavam cada vez em maior numero e isso preocupava demais ao vigário e também a comunidade em geral.

Era preciso encontrar uma solução e depressa, o tempo passava e nada de alguém ter uma boa idéia; de repente o padre da paróquia comunicou aos fieis que fecharia a igreja por alguns dias para uma pequena reforma, quinze dias depois ele convidou a população para a inauguração da mesma.

Quando as portas da igreja foram abertas foi um choque, pois a reforma consistia em uma fileira de anjos de gesso em volta de toda a nave, até ai tudo bem porque os anjos habitam as igrejas, mas aqueles anjos eram especiais porque o rosto deles era uma copia fiel das feições do padre da paróquia.

A missa começou e o povo não parava de olhar para os anjos, sem entender o porque daquela idéia fora de propósito do jovem vigário; durante o sermão ele tentou explicar que não era por vaidade que estampara sua fisionomia no rosto daqueles anjos e sim para o povo se lembrar de sua atenção com todos eles.

Os anjos se tornaram um motivo de discórdia no lugar; as beatas e beatos acharam lindos, mas os menos fanáticos fizeram restrições a novidade e quando diziam: isso é pura vaidade, onde já se viu padre vaidoso, isso chega a ser pecado e ai a briga começava, era socos e chutes para todos os lados, a policia chegava e também pegava pesado.

Os fieis descontentes trocavam de seita a toda hora, até que alguém avisou o senhor bispo da diocese do que estava acontecendo e ele foi conferir, concordando com os dissidentes dizendo: a vaidade é um dos piores pecados, é a trilha que conduz a perdição; o padre foi transferido, as brigas acabaram e as ovelhas desgarradas voltaram ao aprisco.

Outro vigário foi mandado para Cruz dos Anjos e os fieis pacificados voltaram a cantar hinos alegremente; por ordem do senhor bispo os anjos encrenqueiros foram retirados, o assunto foi encerrado , mas jamais esquecido e depois de tanto tempo passado a comunidade não se esquece daquele padre vaidoso e nem dos gordos anjinhos.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 01/10/2008
Código do texto: T1206653
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