DOIDA É A OUTRA
DOIDA É A OUTRA
Se Antonio José não era verdadeiramente doido era um artista porque fingia muito bem, ao vê-lo dizendo palavrões, atirando pedras e as vezes tirando as calças e mostrando o traseiro nu, ninguém teria duvidas a respeito de sua insanidade mental; na verdade ele era um desequilibrado bem vestido, sempre limpo, bem penteado e até cheiroso.
Pertencendo a uma das melhores e mais tradicionais famílias da cidade de Serra Branca, ele tinha tudo para se dar bem na vida, mas quando alguém perguntava: Antonio José cadê seu namorado? O mundo vinha abaixo, ele gritava todos os impropérios conhecidos e corria atrás das pessoas agitando um pesado bastão, e gritando sempre.
A policia do lugar fazia vista grossa; também a culpa era sempre dos gaiatos que o atormentavam com aquela pergunta ofensiva, o pior era quando ele resolvia provar que não tinha namorado porque era homem e tirava as roupas para mostrar que não era mulher; nessa hora era impossível ignorar o escândalo. a policia agia e ele era preso.
Uma das manias de Antonio José era se sentir um injustiçado, por causa das prisões e porque um parente seu era comerciante e se recusava a lhe dar um emprego, mas como empregar uma pessoa instável como ele? A situação se agravava e a família do rapaz já não sabia o que fazer, porque ele se recusava a consultar um médico e se tratar.
Alto e muito forte era uma missão impossível obriga-lo a fazer o que não queria, mas seu cunhado Elias teve uma idéia que todos acharam brilhante, foi o seguinte: ele convenceu Antonio José que sua mãe dona Lurdes estava muito nervosa e que precisavam leva-la a um especialista em doenças mentais, mas ela não queria ir de jeito nenhum.
Aparentemente ele aceitou o plano de fingir que o doente era ele para engana-la; Elias contratou um motorista de táxi para levar Antonio José e sua mãe até a cidade vizinha, para fazer a internação no hospital de doenças mentais de lá, mas não o avisou do plano de troca de doentes, daí para frente a historia tinha tudo para dar errado e deu mesmo.
Enquanto dona Lurdes assinava os papeis da internação de Antonio José, ele avisou aos guardas que ela tinha surtos repentinos de fúria e quebrava tudo que estivesse por perto; nesse momento ela se virou e os seguranças se assustaram com seu rosto muito vermelho e os olhos saltados, ela foi agarrada e metida em uma camisa de força e internada.
Eles não sabiam que dona Lurdes sofria de uma grave doença dermatológica que causava o rosto afogueado. os olhos saltados era por causa do ipertireoidismo que ela sofria, pensaram que ela era louca furiosa; enquanto isso ele disse ao motorista que podiam voltar para Serra Branca, pois sua mãe já estava internada e estava tudo bem.
Ao chegarem em sua cidade foi descoberto o engano; Elias o cunhado trapalhão ficou em apuros e correu para socorrer a sogra, mas os médicos só davam altas aos pacientes internados depois de quarenta e oito horas de observação e não aceitaram as explicações fornecidas por ele, dona Lurdes foi obrigada a ficar internada até tudo ser esclarecido.
Quando as pessoas perguntam a Antonio José porque ele fez aquela maldade com dona Lurdes ele responde: Não foi maldade foi justiça, ela queria se livrar de mim e eu mostrei que sou mais esperto do que ela pensa, ninguém me engana com facilidade; depois de toda essa confusão, restou para o povo de Serra Branca uma eterna duvida e uma pergunta difícil de responder: Antonio José é louco ou não?
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA