VILA VERDE
VILA VERDE
Aquele lugar era apenas um pontinho no meio do mundo, uma vila parada no meio de coisa nenhuma e onde nada de diferente acontecia; lá em Vila Verde só a monotonia de sempre: casava gente, nascia gente, morria gente e só.
Festas não existiam, o povo era desanimado e mesmo quando alguém comemorava alguma coisa, era com um almoço ou jantar onde os convidados chegavam, comiam e voltavam para suas casas; nada de musica, dança ou cantoria.
O paradeiro daquela terra era tamanho que ao se encontrarem pela poucas ruas do lugar os moradores cortavam os cumprimentos pela metade, bem assim: diaa, tardee, noitee ou simplesmente passavam no mais completo silencio.
Lá havia uma capela dedicada a Santa Inácia onde uma vez em cada mês, o velho vigário da cidade mais próxima vinha celebrar missa, ouvir confissões, fazer batizados e de vez em quando realizar um casamento e ficava nisso.
Onde não existe bares, musica , danças e muita alegria também não acontecem brigas, porque para brigar é preciso ter animo e muita disposição e desses artigos Vila Verde era totalmente carente; lá se desfrutava de uma paz morna, tediosa.
De repente com a chegada de um cidadão muito alegre e bem falante tudo mudou; o homem se chamava Tibério e chegou com a mulher e dois filhos pequenos, em principio se acomodou na casa de um primo que morava lá, parecia uma visita.
Mas logo disse a que veio, alugou uma casa e abriu o primeiro bar daquela vila, foi um susto e o povo adorou a novidade, olhavam encantados para as prateleiras cheias de garrafas coloridas de vidros cheios de balas, mas olhavam de longe, ressabiados.
Com o passar dos dias passaram a freqüentar o estabelecimento para beber e comer alguma coisinha, mas principalmente para ouvir as musicas e noticias do radio de Tibério, a paz continuava e foi quebrada não por bebedeiras, mas por outra coisa.
De repente Tibério apareceu com uma velha maquina de fabricar picolé, daqueles antigos redondos e pequenos; foi um alvoroço porque todos queriam provar a novidade e seu Juca morador de um sitio perto da vila, ouviu falar no assunto e veio ver.
O roceiro comprou um picolé, provou, aprovou e disse: qui trem bão sô; comprou uma dúzia deles colocou no embornal, montou no cavalo e foi levar a novidade para a mulher e os filhos provarem também, mas ao chegar só encontrou os palitos.
Seu Juca voltou furioso entrou no bar, agarrou Tibério pelo pescoço e o encheu de pancada, o negociante reagiu e aconteceu a primeira briga de Vila Verde, foi uma confusão enorme até alguém explicar para o zangado lavrador que picolé derrete.
Quando entendeu que picolé não faz viagens, ele se desculpou com o massacrado dono do bar que se ofereceu para repor a mercadoria perdida, ai ele disse: podexá Sô Tibero, vô busca a muié e os minino e eles bebe a água de palito aqui memo; como bom negociante Seu Tibério aceitou as desculpas do mal informado roceiro e o assunto foi gelado ali mesmo.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia]
Texto registrado no EDA