VÍRGULA 1 : O NAMORO (COR)

(CORRIGIDO)

O NAMORO

VÍRGULA 1

Assobiando pelas ruas empoeiradas de Nazário, caminha Onofre em direção ao córrego onde os jovens da cidade costumavam reunir-se para tomar o banho diário, refrescando-os do calor QUENTÍSSIMO naquela época do ano. No inverno só os mais corajosos mantinham esse hábito, passando antes, é claro pelos botecos, que não eram muitos, mas todos com seus estoques de Chora-Rita, Rabo de Galo, e outras aguardentes de pouco nome ou sem nenhum, originarias das fazendas vizinhas, sempre possuidoras de seus formidáveis alambiques. O sabonete era uma companhia necessária, nem tanto a toalha, enxugava-se na caminhada rápida de regresso.

A trupe tomava o destino diverso ao penetrarem nas divisas da urbe, pequenina, mas muito importante para todos, o melhor lugar do mundo, onde se podia trabalhar, amar, sonhar, largatixear pelas margens de vários córregos e rios, onde a felicidade e o romantismo estavam em cada canto. Ao passar por uma determinada rua, ONOFRE parava defronte uma janela azul, onde dependurada sobre o peitoril estava a sua Das Dores, esperando-o ansiosa e ao vê-lo passar:

- Volto mais tarde.

- Mas tenha cuidado meu pai não quer...

- Sim, eu sei a hora certa...

Ao chegar em casa trocava de roupa, fazia um cigarro de palha, já na porta de rua sentado em algum banco ou toco esparramados pela entrada das casas, onde se reuniam a fazer boca de pito, um dedo de prosa, enamorar-se com o luar, cantarolar, passatempos comuns do interior. Quando a lua já se fazia altaneira, o jovem, com amigos que tocavam acordeom e violão, iniciava uma via sacra, passando pela casa de cada pretensa namorada, mesmo naquelas onde se fazia o amor platônico...

- Acorda saudosa mulher...Eram os primeiros acordes de um repertório que ia ao máximo com cinco melodias, todas lindas, que faziam das mulheres cada vez mais apaixonadas. Percorriam a casa de todas namoradas do grupo, e é claro também e sempre da Das Dores.

O comentário no outro dia era geral, todos gostavam, até mesmos os pais mais turrões, emocionavam. Corria pela boca pequena que daquele ritual, era comum sair algum casamento. Não é que OnofreE não esperou muito para fazer o pedido:

- Sr. Vava, como bem sabe, eu quero a mão de sua filha.

- Moleque insolente, nem emprego tem, como é que vai tratar da mulher?...

- O meu pai ajuda, tenho umas vaquinhas, o Sr. Sabe né?...

O velho pensou, pensou, vendo ali uma boa oportunidade de ficar livre de uma das filhas.

- Vou pensar. Ou melhor, fala para seu pai que eu quero conversar com ele.

Não passou muito lá estavam os dois, trocando prosa e é claro o assunto central o casamento dos filhos.

Corrido as plocamas, nos encontramos na porta do cartório civil, a fim de assistirmos a mais um embate matrimonial.

- É de livre vontade que Onofre de Lima, aceita com legitima esposa Das Dores Lima.

- Sim. A perguntar foi repetida para Das Dores que repetiu a resposta com o mesmo ímpeto.

Saindo dali, acompanhados de alguns amigos, irmãos e a irmã Anitinha, dirigem a casa onde estava sendo preparado um farto almoço.

Das Dores fica pensativa, estava realizando um sonho, mas faltava uma parte dele. Faltava a cerimônia religiosa, onde com certeza ela seria o centro de tudo, Vestida de branco, toda rendada, arrastado a cauda do vestido pelas ruas empoeiradas e acompanhadas dos padrinhos e familiares, no estilo dos casamentos interioranos, sonho de toda a donzela casamenteira. A cerimônia não poude ser realizada conforme os seus pensamentos, pois naquela região o padre passava de quando em quando, deixando para realizar todos de uma só vez.

Algum tempo depois, talvez anos, o casal vislumbrou a melhora de vida noutra cidade das cercanias, não pensaram muito, correram atrás da sorte lá para as bandas de Anicuns.

Goiânia, 29 de setembro de 2008.

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 30/09/2008
Reeditado em 10/10/2008
Código do texto: T1203480
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