A FESTA
A FESTA
O ser humano cultiva desde que o mundo é mundo o sentimento da vaidade, as pessoas se esforçam ao maximo para superar umas as outras; cada um em sua atividade procura aparecer de alguma maneira superando o outro, para isso a maioria não se importa em magoar ou mesmo prejudicar alguém.
Mas o que vale nesse mundo um tanto maluco é a alegria da vitória, é o prazer de sobressair custe o que custar e dona Ana Julia não era diferente; se fazia de indiferente aos elogios e a bajulação, mas bem que gostava de ser prestigiada; ela escrevia poesias as vezes lindas e outras vezes nem tanto, mas como em terra de cego quem tem um olho é rei, tudo bem.
Em Córrego das Flores as festas se sucediam durante o ano todo, com motivo ou sem ele, aquele alegre povo festejava; sábado sem uma festa não era considerado sábado e sim dia de finados, mas a mais esperada de todas as festas era a entrega dos Diplomas de Destaques do ano, não exatamente pela festa e sim pela indiscutível vaidade dos destacados.
Os comerciantes da cidade eram os eleitores e ai era o momento de fomentar rivalidades , descontentamentos e de vingança, porque amigos eram votados e inimigos deliberadamente esquecidos; se os eleitos eram merecedores da honraria nem se discutia, valia a lei do mais forte e o poder do dinheiro, porque aquele diploma era caro.
Dona Ana Julia a poetiza era sempre muito bem votada; como filha daquela cidade ela era também muito festeira, mas era mulher de opiniões fortes e achava que homenagem gratificante é a que não depende de dinheiro, e sim de valores simples como amizade e carinho, porque em sua maneira de pensar o que se compra vale apenas o preço pago.
Mas dona Ana Julia tinha filhos que decidiram que pagando ou não, era uma homenagem para a mãe e era muito bem vinda; ela concordava com a vontade deles e ia receber o diploma e os aplausos, mas não se sentia nem um pouco privilegiada por toda aquela pompa e circunstancia pagas a um bom preço.
Para a poetiza restavam sempre algumas duvidas, por exemplo ela pensava: será que outra pessoa mais inteligente e competente não seria merecedora tanto ou mais que eu? Ou será que se eu não pudesse pagar seria homenageada da mesma forma? Esses pensamentos destruíam o sabor de vitória e alegria pelo esperado evento.
Mas se o jeito era aquele, o melhor era procurar desfrutar da comida, , bebida e musica da festa e deixar as considerações pessimistas para épocas menos festejadas e menos alegres, porque se todos concordam com a situação, a minoria ranzinza e de pensamentos antiquados como Dona Ana Julia, está paga para se calar e deixar o mundo com seu Deus.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA