VIDA ARROGANCIA E MORTE DE LURDONA

VIDA, ARROGANCIA E MORTE DE LURDONA

Seu nome era Lurdes, enquanto era menina todos a chamavam carinhosamente de Lurdinha, mas a medida que crescia deixava de ser Lurdinha e acabou para sempre Lurdona, cresceu bem de corpo e era uma mulher grande, mas nunca seria uma grande mulher; grande era seu corpo, mas pequeno era seu espírito: criatura detestável, má, mesquinha, arrogante e ainda por cima era desonesta.

Lurdona era casada com Totonho, homem crédulo, calmo e bom, mas sua bondade era explorada pela peste da mulher, de todas as maneiras; mal habituada desde o inicio do casamento , Lurdona fazia do marido o que queria, ela não pedia, mandava e ele atendia com a maior boa vontade, os abusos da megera eram tantos, que o povo passou a chama-lo de Totonho da Lurdona.

O que mais escandalizava a todos, era o fato da mulher trair o bondoso marido, com quanto homem lhe aparecesse, ela era a encarnação da lendária Messalina romana e aquilo trazia as demais esposas do lugar em constante sobressalto; enciumadas vigiavam Lurdona o tempo todo, ficando assim bem informadas dos deslizes da desavergonhada, censuravam a mulher, mas muito mais ao marido.

Diziam que ele era um boi manso acostumado aos chifres e com sua omissão colocava em perigo a paz conjugal de todas elas; Totonho de Lurdona era alvo de zombarias, desprezo, fofocas e com sua boa fé, nada percebia; o que parecia conformismo, falta de brio e excesso de tolerância, nada mais era que ignorância, pois ele de nada sabia, suportava a arrogância e os maus modos da mulher por amor.

Ele a amava e dava para nada seus modos grosseiros; as ofendidas senhoras da Vila de São João por fim não suportando mais a calma de Totonho resolveram lhe escrever uma carta, contando todos os amores adulteros da mulher, aproveitando a ocasião para avisa-lo dos apelidos que levava e do desprezo que a comunidade tinha por um homem fraco e tolo como ele.

A carta era anônima como são sempre as cartas desse tipo, Totonho leu a carta, olhou para a mulher que no quintal da casa, escolhia feijão em uma peneira e cantava e nada disse; saiu mansamente, subiu uma ruazinha que ia dar na venda do turco Habib, lá chegando comprou uma faquinha de dez centímetros de comprimento por dois de largura, pagou por ela hum mil e quinhentos reis e voltou.

Lurdona estava no mesmo lugar, escolhia feijão e cantava; Totonho não disse uma palavra, não fez um gesto brusco e com a gentileza de sempre, cravou a faquinha bem em cima daquele péssimo coração, a mulher se abateu sobre a peneira e não deu um grito, a morte foi instantânea, estava acabada Lurdona, não diria mais desaforos. nem colocaria chifres no marido, as esposas da vila estavam na paz.

Foi um alarme geral, quando alguém gritou: Totonho matou a Lurdona, era quase impossível de acreditar; as delatoras ficaram assustadas e cheias de remorsos, afinal Lurdona era uma bruxa, mas era um ser humano com direito a vida; Totonho se entregou ao espantado delegado Zurico e foi a julgamento, saiu livre porque os antecedentes da morta eram horríveis e os do assassino eram ótimos.

Ninguém mais o chamou de Totonho da Lurdona, estava livre dela e das zombarias, mas só ele sabia a solidão e tristeza que sentia, depois de alguns anos solitários e sofridos, ele também morreu, quietinho em sua casa vazia; foi-se o Totonho e sobreviveu sua triste historia.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 28/09/2008
Código do texto: T1201360
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