VAMOS CHEGAR MOÇO
VAMOS CHEGAR MOÇO
A mais comprida rua da cidade de Mato Verde era a Rua Doutor Getulio Vargas, mas a população nunca se lembrava disso e todos a chamavam de Rua Direita e era um nome merecido porque a tal rua não tinha uma só curva, era direita do principio ao fim e como era a maior rua do centro da cidade, tudo acontecia ali e o pequeno comercio estava lá.
Um armazém, uma loja de tecidos, uma farmácia e um bar e era tudo, parece pouco mas era o suficiente para a pouca população do lugar, além dessa rua existiam mais duas ruelas e duas praças modestas, em uma delas estava situada a igreja de Santa Maria Mãe dos Homens; o divertimento da comunidade era quase nenhum.
Aos domingos os jovens se divertiam passeando de lá para cá e de cá para lá na rua direita, de vez em quando havia um baile numa das casas de família e era só, mas todos se sentiam felizes com sua modesta condição de vida e ninguém queria mudar nada, viviam no maior sossego e isso era o bastante; as pessoas nasciam, se casavam e morriam.
O povo de Mato Verde era de paz e por isso o cabo e dois soldados que eram todo o policiamento da cidade, viviam de férias permanentes porque não acontecia nada que lhes desse trabalho; os anos se sucediam e nada mudava, aquela vidinha mansa era tudo que precisavam; mas para tudo tem uma primeira vez e a vez de Mato Verde chegou.
Não apareceu lá nada demais, apenas uma moradora nova chegou com seu jeito moderno de viver; era uma mulher já bem passada dos quarenta anos e se vestia com roupas de cores vivas, de saia curta e grandes decotes, com o rosto coberto de pó de arroz e os lábios pintados com um batom escandalosamente vermelho, ela assustou as pessoas.
Para completar ela chegou só com um filho adolescente e nada de um marido, mas pelo jeito tinha dinheiro pois comprou uma casa no final da rua direita e se ajeitou por lá; enquanto a tal Ernestina ficou quieta no seu canto estava tudo bem, ela ficava o dia todo na janela de frente da casa, mas não incomodava ninguém e de repente seu jeito mudou.
Passou a interpelar os homens que passavam pela rua, puxava conversa e mesmo com pouco assunto a prosa rendia, mas as esposas e namoradas dos interpelados não gostaram nem um pouco da novidade e para acabar com aquela historia, proibiram seus homens de parar com a oferecida e menos ainda de ficarem de papo fiado com ela.
Ernestina percebendo o veto, partiu para o ataque e de sua janela ao ver os homens passarem rápido e sem olhar para os lados, ela gritava : vamos chegar moço, passei um café agorinha, vamos chegar; isso foi demais para o mulherio da cidade de Mato Verde, resolveram tomar alguma providencia, mas precisavam pensar bem para acabar com aquilo.
Enquanto elas pensavam , Ernestina usava e abusava do direito de aparecer: até que a valente Assunta teve uma idéia que foi aceita por todas as outras e em seguida colocada em pratica, assim: tudo naquela minúscula cidade era contado em um ou em uma; um açougue, uma mercearia , uma farmácia e todos os demais serviços eram da mesma forma.
Os proprietários de tudo eram casados e receberam ordens das esposas para não venderem coisa alguma a tal de Ernestina, a mulher tentava comprar alguma coisa e a resposta era sempre a mesma: estou em falta desse produto, sinto muito; a mulher ficou sem nada dentro de casa e foi obrigada a se mudar para outro lugar onde o gentil convite de Vamos Chegar, não ofendesse tanto.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA