O SENHOR BISPO LEVOU O DELE
O SENHOR BISPO LEVOU O DELE
Muito tempo já se passou e ninguém se esqueceu daquele entrevero, foi na Vila dos Coqueiros que se deu o fato inusitado, minha avó me contou e eu conto agora: Lipinho é um apelido suave, mas o portador dele era mal humorado e violento e por pouca coisa se zangava e brigava.
Naquela vila todos evitavam encrencas com Lipinho porque em sua normalidade ele era ótima pessoa, dono da única farmácia do lugar, na falta de um medico ele era o socorro garantido em casos de doenças, acidentes ou partos difíceis; ele atendia prontamente a qualquer hora do dia ou da noite.
Era bom cristão porque era um homem caridoso, mas não era religioso e abominava padres e principalmente os senhores bispos, porque naquela época eram autoritários e as vezes bastante grosseiros; para evitar aborrecimentos Lipinho não aceitava convites para padrinho de ninguém.
Quando seu melhor amigo se casou ele recusou o convite para ser o padrinho do noivo, um ano depois se recusou a apadrinhar o primeiro filho do mesmo amigo; o amigo não desistiu e o convidou para padrinho de crisma do menino e ele não pode recusar mais uma vez e aceitou, ai deu-se o desastre.
O Senhor Bispo chegou com toda pompa e circunstancia devida a um Príncipe da Igreja, mas já chegou de mau humor e assim permaneceu até a hora prevista para a cerimônia do crisma; as crianças e seus padrinhos foram colocados em fila e começou a choradeira habitual das crianças.
Choravam com medo da enorme figura do bispo e por estarem com pessoas que não conheciam direito e longe de suas mães, mas a cerimônia continuava e o senhor bispo cada vez mais bravo, xingava um, empurrava outro e aquelas pessoas simples e cristãos fervorosos se calavam.
Até que chegou a vez de Lipinho apresentar seu afilhado, ele levantou o garoto que esperneava e chorava aos gritos apavorado, o celebrante empurrou Lipinho e disse: leve esse moleque daqui, não agüento mais esse berreiro; Lipinho respondeu: crisme a criança porque eu paguei pelo serviço.
O bispo empurrou novamente o homem e deu um tapa no garoto, foi a conta: Lipinho esticou o braço para trás e deu um murro no queixo do ilustre personagem com quanta força tinha, o bispo desabou no chão desmaiado; os fieis da comunidade ficaram horrorizados e sem ação com o acontecido.
Assim que o choque passou correram para socorrer o oficiante, mas a cerimônia foi cancelada porque o senhor bispo só queria sair o mais depressa possível da Vila dos Coqueiros; Lipinho danado de raiva entregou o quase afilhado para a mãe e jurou nunca mais se aproximar de qualquer membro do clero, nem pelo melhor amigo desse mundo.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA