A TORRE

A TORRE

Na Vila da Cruz Torta a comunidade era composta de pessoas simples e crédulas, algumas eram realmente pobres e incultas, outras cultas e pobres e a minoria era rica mesclando cultos e ignorantes; nessa mistura a unanimidade era uma só: todos eram crédulos e tinham medo de almas penadas, sacys e outros tipos de coisas estranhas.

Em um lugar pequeno como aquele as historias corriam de boca em boca e os mais idosos se divertiam contando lendas assombrosas que assustavam os jovens e as crianças; todas as noites os moradores do lugar se reuniam em volta do fogão de lenha de suas casas e a conversa era sempre a mesma: assombrações, almas desgarradas etc.

Seu Chiquito Mulato era o melhor contador daquelas historias fantasmagóricas, reunia os netos todas as noites e enchia as cabeças deles com sua amedrontadora conversa e depois de um bom café com quitandas ia dormir calmamente, sem pensar que os netos não conseguiam dormir em paz , pois os pesadelos os acordariam suando frio de medo.

A mais assustada era sua neta Malvina, a menina de doze anos acreditava em tudo que o velho avô contava, mas era uma criança travessa e apesar do medo ela aprontava muito e tinha um desejo: ela queria olhar a vila do alto da torre da pequena igreja do lugar, era detida por que um dos casos contados pelo avô se referia exatamente a alta e sombria torre.

Seu Chiquito contava que um casal de namorados se escondia naquela torre para namorar, porque a família da moça era muito rica e não queria que a jovem namorasse um rapaz pobre como aquele, mas alguém avisou ao pai da moça o que estava acontecendo e ele resolveu acabar com o assunto de uma vez por todas.

Para conseguir o que queria o homem contratou um capanga e disse que era para dar um susto dos grandes no rapaz, o capanga seguiu o casal até a igreja e subiu atrás deles até a torre, quando eles se distraíram ele empurrou o moço lá de cima, o rapaz caiu lá do alto e morreu na hora, a moça desesperada se atirou atrás dele e teve o mesmo fim.

O velho contador de historias terminava assim: isso já faz mais de trinta anos, mas as almas deles ainda estão lá e se alguém subir na torre depois do escurecer, vai na certa se encontrar com eles; por causa dessa historia a menina Malvina desistiu por um tempo de sua vontade de olhar a vila lá do alto, mas uma tarde ela deixou o medo de lado e foi lá.

O dia estava claro e ela pensou: não tem perigo pois antes da noite chegar eu vou estar em casa; a escada que servia para chegar ao alto da torre não era pregada, ficava no chão do coro da igreja, quando o sineiro ia subir ele a colocava e quando descia retirava para evitar que crianças subissem até a torre, mas naquela tarde ele se esqueceu dela.

Malvina se aproveitou do descuido do sineiro e subiu até a torre, olhou a vila do alto e não viu o tempo passar, quando se lembrou de descer a noite vinha chegando, mas a escada não estava lá porque o sineiro voltou e a retirou; a menina muito assustada gritou por socorro e ninguém ouviu, a noite chegou de vez e ela gritou até cair no chão.

Chorava e rezava, esperando a qualquer momento a presença do casal de namorados mortos da historia de seu avô, o cansaço veio e ela dormiu e só acordou quando o sineiro chegou para tocar o sino;o homem se assustou e disse: menina sua família passou a noite toda te procurando, desça depressa e vá para sua casa , ela desceu e foi.

Ao chegar em casa sua mãe estava chorando desesperada e seu pai estava uma fera com seu sumiço, não quis ouvir suas explicações e lhe deu uma surra de cinto para ela nunca mais ter idéias malucas; ela agüentou calada porque sabia que estava errada e disse: valeu a pena porque nunca mais vou ter medo de fantasmas, descobri que eles só existem nas historias de meu avô.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 26/09/2008
Código do texto: T1198725
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