SONHO DE COWBOY
SONHO DE COWBOY
Todo ser humano tem um sonho: sonha-se com riqueza, beleza, fama ou até com santidade, dentro de seus sonhos as pessoas vivem o que desejam e não conseguem ter; sonhar dormindo é uma coisa e outra bem diferente é sonhar acordado, porque as coisas se misturam e realidade e sonho tornam-se quase inseparáveis, e é ai onde mora o perigo.
Na cidade de Água Funda vivia Liucho, rapaz saudável, alegre, prestativo e trabalhador, mas como qualquer pessoa tinha seu sonho e não era um sonho comum, porque ele vivia o que sonhava no dia a dia e como todos na cidade eram seus amigos, participavam de seus devaneios e essa atitude não ajudava e sim piorava a situação.
O jovem sonhava que era um cowboy, vestido de couro franjado, botas brilhantes, enorme chapéu de feltro e no cinturão com vistosa fivela de prata ele carregava dois lindos Colts 45, dependurado da sela um rifle Winchester; ele se via assim o tempo todo e montado em seu cavalo alazão galopava por vastas pradarias, combatendo bandos de índios ferozes.
Desafiava os amigos para hipotéticos duelos, todos sacavam suas armas imaginarias e travavam grandes tiroteios nas empoeiradas ruas de Água Funda, alguns eram atingidos e caiam de maneira espetacular e morriam; Liucho sempre saia vitorioso dos entreveros e andando de pernas tortas como um cowboy, dizia em um inglês macarrônico: good bay friend.
Os anos passavam e nada mudava, vivendo seu sonho de faroeste com a colaboração dos amigos Liucho era muito feliz; ele trabalhava na carga e descarga de caminhões, apesar do trabalho pesado e das dificuldades da vida, imerso em seus sonhos ele não percebia o quanto era pobre e só, pois seus amigos cresceram, se casaram e o abandonaram.
Ele apenas mudou de amigos, passou a brincar com as crianças; sempre galopando, atirando e rodando um laço, continuou sua luta contra índios e perigosos bandidos, as pessoas da cidade sorriam diante daquele adulto com alma de menino, o tempo passando e ele mergulhado em seus sonhos não se dava conta, pois sua vida não mudava nunca.
Mas chegou o dia do duelo final , aconteceu assim: era a safra do café e Liucho estava em cima de um caminhão recebendo as sacas, quando alguém passou e fingiu atirar nele, ele levou as mãos ao peito e caiu morto, mas a altura da carga era grande e na queda fraturou a base do crânio e morreu de verdade.
Foi um dia de tristeza na cidade toda, porque aquele alegre e inofensivo cowboy jamais fizera um inimigo, todo a comunidade de Água Funda acompanhou seu enterro e o autor da ultima brincadeira jamais se perdoou pelo ocorrido; o prefeito da cidade decretou três dias de luto e doou um tumulo com uma cruz formada por um rifle e dois revolveres, ornamentada com o velho sombrêro preto que ele usava sempre; descansa em paz Liucho, grande defensor da lei e da justiça.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registraao no EDA