SANDUICHE
SANDUICHE
Naquele lugar remoto as novidades demoravam para chegar, coisas pequenas e de pouca valia, mas para aquela gente simples qualquer coisa diferente do cotidiano causava espanto; os costumes rígidos e as exigências das famílias mantinham todos de rédea curta, eram muitas regras e nenhuma exceção.
As refeições eram servidas em horários pré-determinados e as famílias deviam estar completas em volta da mesa sem um minuto de atraso, adultos e crianças deviam comer juntos e jamais aceitar comida em casa de parentes ou amigos, só em ocasiões festivas era permitido comer fora de casa.
Isso causava o pouco conhecimento de novidades culinárias, cada pessoa conhecia a comida de sua própria casa e naquela região a comida variava pouco, o cardápio era sempre o mesmo: arroz, feijão, legumes, verduras, carnes e todos se sentiam bem alimentados e satisfeitos.
O comercio pouco tinha a oferecer e durante décadas foi assim, mas de repente Seu Joca abriu um bar e começou a trazer coisas novas, bebidas finas, doces enlatados e balas coloridas, as famílias não gostaram da novidade porque senhoras e crianças não entravam em bares e botecos, mas com tanta coisa nova todos queriam ir até lá.
A situação chegou ao limite quando seu Joca trouxe da capital um enorme presunto, a noticia correu e todos queriam provar aquela maravilhosa carne cor de rosa, mas as condições financeiras da maioria não permitia tais luxos e a fina iguaria ficou só para os mais abonados.
As crianças olhavam de longe o movimento do bar, uma delas de nome Gustavinho sonhava com aquela carne rosada, que o dono do bar servia em fatias dentro de um pão a seus fregueses; durante alguns dias o menino olhou e não reclamou de seu desejo para ninguém.
Havia uma mulher linda chamada Doninha, que era uma mulher e não era uma senhora que freqüentava o bar todos os dias, levava seu cachorro junto e o alimentava com pedaços de presunto, ao ver aquilo Gustinho foi até ela e se ofereceu para ser seu cão.
A mulher não entendeu o pedido do menino, mas ele disse: dona eu quero ser seu cachorro para ganhar dessa carne cor de rosa e ver que gosto tem, ela chorou de pena do garoto, comprou um presunto inteiro e lhe deu de presente.
Feliz da vida Gustinho correu para casa com a novidade, mas seu pai e o obrigou a devolver o presente, e disse ao menino: somos pobres, mas não aceitamos nada que venha das mãos daquela mulher pecadora; entender ele não entendeu, mas devolveu o presunto e continuou a sonhar com aquela rosada e inatingível carne.
Maria Aparecida Felicor{Vó Fia}
Texto registrado no EDAi