Praia da Mariana - parte 1
Parte 1
Hoje, parada em frente ao espelho, Mariana olha a figura que ali se mostra para ela, fica a pensar em quanto tempo foi necessário para que se transformasse em quem era naquele exato momento de sua vida.
Menina pobre, Mariana desde cedo conhecera o quanto era difícil à vida; pai pedreiro, mãe lavadeira vivendo no interior do Rio de Janeiro, por diversas vezes, sequer teve o que comer, dependendo da caridade de outros.
A vida não lhe poupou da falta das coisas materiais o que não aconteceu em relação as suas fantasias: Mariana sonhava. Sonhava com tudo aquilo que a vida por capricho não lhe dera: Bons brinquedos, boas roupas, boa comida, uma boa e confortável casa. Uma outra coisa que possuía também, apesar da vida miserável, era uma boa educação nata. Seu pai sempre muito pobre, não tinha tido nenhum tipo de ensinamento, tanto no que referia à educação de casa quanto na vida escolar, era analfabeto; herdara da mãe essa qualidade. Sua mãe sempre apreciara muito a leitura e cresceu vendo-a ler nas madrugadas à luz da lamparina, eram pilhas e mais pilhas de revistas de fotonovelas.
Crescera feliz, apesar dos contratempos, suas dificuldades foram lhe acompanhando em diversos aspectos de sua vida pessoal. Teve que começar cedo trabalhar e isso lhe deu uma independência precoce, aos treze anos já era dona do seu nariz, nessa época seus pais já eram separados e a mãe lutava sozinha pela sobrevivência da família.
Estudou graças ao esforço da mãe e mais tarde pelo seu próprio. Casou-se, teve filhos, que são sua razão de viver, separou-se, se formou na faculdade com muito esforço e muita ajuda da mãe.
Hoje Mariana vê diante de si uma mulher que venceu, que superou todos os obstáculos que se apresentaram à ela até hoje. Tem um bom emprego e está segura. Isso lhe faz sentir um grande orgulho dessa mulher que admira no espelho. Pode dizer que é feliz.
_ Mariana! Vamos, estamos atrasadas! _ Era sua mãe chamando-a, iam sair para encontrar um corretor de imóveis que ira lhes mostrar uma casa na praia, mais um grande sonho que se realizava.
_ Estou indo mãe! Estou indo.
_ Desse jeito vamos chegar tarde na corretora!
_ Calma mãe, não vamos nos atrasar.
Foram então ao encontro do corretor. Chegando lá ele já as esperava.
_ Bom dia senhoras, como vão? _ Pergunta-lhes o corretor.
_ Ansiosas. _ Responde-lhe Mariana _ Não vemos a hora de conhecer a casa.
_ Então vamos, vão gostar da viagem até lá, o lugar é muito bonito.
De fato, a paisagem era muito bonita. A estrada era quase uma serra e conforme o carro entrava em cada curva, podia-se avistar árvores frondosas enroscadas de cipós em suas copas e com suas raízes sob tapetes de florezinhas coloridas em todos os matizes imagináveis. Se existe um caminho para o paraíso, pensava Mariana, dever ser igual a este.
Cada vez que chegavam mais perto, mais ela se certificava de que aquele lugar passaria a fazer parte de sua vida. Sentia uma enorme afinidade com tudo aquilo, aquele ar, uma brisa fresca trazendo o cheiro da maresia, o que significava que já estavam chegando.
Mariana economizara muito para este momento, nem se lembra mais quantas vezes teve que trabalhar dobrado para realizar esse sonho. Desde menina fora apaixonada pelo mar, ele exercia um enorme fascínio sobre ela. Por infelicidade, ela não tivera a oportunidade de aprender a nadar, um dos sonhos que ainda não realizara; quem sabe agora morando tão perto do mar... Voltou à realidade ao sentir o carro frear. Não pôde conter um suspiro quando desceu e olhou aquela casa à sua frente. Era construída num terreno alto, a parte de baixo uma garagem e a casa propriamente ficava acima dando uma vista maravilhosa para a praia que ficava um nível abaixo.
Cada passo que dava em direção à entrada a deixava mais encantada com a pequena casa, os detalhes da varanda feitos em madeira, as grandes janelas que deixavam entrar toda a brisa vinda direto do mar dando ao ambiente um frescor confortável. Os quartos eram pequenos, mais aconchegantes, já conseguia decorá-los só de olhar, o banheiro tinha um tamanho razoável e também era bem acabado com detalhes em tons de verde. A cozinha era mais ampla com uma das paredes quase toda em vidro o que dava uma vista estonteante para uma montanha que ficava na parte detrás da casa.
Aquela era a sua casa, não queria ver mais nenhuma, foi paixão a primeira vista.
_ Não precisamos ver outras, eu quero essa – Disse ao corretor.
_ Ótimo, trouxe-a aqui primeiro porque tinha certeza de que gostaria dela.
Lembrou-se que não estava sozinha, ficou tão extasiada que se esquecera de sua mãe, olhou em volta e não a viu. Voltou para a sala e avistou-a no pequeno jardim à frente da casa, ela também já havia encontrado seu lugar preferido para ficar.
Resolveu dar um pulo até a beira do mar. Caminhava lentamente, não queria perder nenhum detalhe daquela paisagem, que esperava, fosse ver por muitos anos ainda. O mar parecia dar-lhe boas vindas, estava calmo e límpido como a dizer-lhe que esperava por ela. Ao longe as gaivotas revoavam felizes e barulhentas. Crianças brincavam tranqüilas a beira-mar.
_ Mariana, vamos? _ É sua mãe chamando-a a realidade pela segunda vez naquele dia.
_ Vamos. Responde-lhe.
Depois de fazer todos os acertos necessários com o corretor, partiram de volta para casa.
O dia tinha sido absolutamente maravilhoso; Ficaria em sua lembrança para sempre aquele momento de realização. Agora, o próximo passo seria fazer a mudança, o que daria muito trabalho, mas isso se tornara apenas um detalhe diante da felicidade de viver naquele lugar e esperar por todas as coisas boas que viveria ali. Tinha certeza disso.