QUE FOME SÔ/
QUE FOME SÔ/
As pessoas consideradas normais comem para viver, mas existem pessoas que comem para morrer, por habito ou por simples gula; Janjão Torradinho fazia parte dessa mal acostumada confraria de comilões e era o mais guloso de todos; a quantidade de comida que ingeria por dia, seria suficiente para matar a fome de dez pessoas ou mais.
Torradino era um espécie de esporte na cidade de Santana Mestra, as pessoas se divertiam com a capacidade do estomago daquele cidadão; promoviam torneios de comilança para descobrir alguém capaz de derrotar Torradinho no quesito comes e bebes, mas por mais que tentassem era inútil porque ele comia mais que todos.
Nos bares da época eram vendidas tigelas de arroz doce que continham um quarto de litro cada uma e essa era a sobremesa preferida dele; uma tarde o fornecedor do tal doce chegou com trinta tigelas bem cheias, recobertas com muita canela em pó no bar de Seu Tito, logo um dos fregueses disse: aposto cem mil reis, que Janjão não come tudo isso.
Um outro replicou: pois eu acho que ele come e cubro sua aposta, o dono do bar perguntou ao comilão: como é Torradinho come ou não come? Ele respondeu: é só argúem pagá uai; apareceu logo um pagante e Janjão comeu a primeira tigela de arroz doce, respirou fundo, bebeu um pouco de água e atacou a segunda e outra e mais outra, até comer todas as trinta.
Em volta a turma torcia, novas apostas foram feitas e no final do doce torneio, mais de um conto de reis estava sobre o balcão; quando os apostadores resolveram dar o dinheiro das apostas ao campeão, a gritaria e os aplausos foram enormes; Janjão gostou da novidade e sempre se exibia comendo grandes quantidades de doces, salgados e frutas.
As façanhas gastronômicas de Torradinho eram divertimento garantido para o povo e fonte de renda para ele, pois o dinheiro das apostas era invariavelmente passado para seu bolso; o que mais divertia aquelas pessoas era ver todos os domingos, Janjão passar pelas ruas carregando nas costas uma grande costela minguinha.
Uma costela dessas pesa entre três e quatro quilos, mas ele mandava sua mulher Donana cozinha-la e avisava: num come nem um pedaço nega, eu sei quanto tem, a coitada obedecia e ele se fartava com toda aquela carne, ela se contentava com o caldo engrossado com farinha de milho e ele dizia: a sustança ta é no cardo, muié.
Os anos passavam e Janjão Torradinho comia cada vez mais, trabalhar nunca trabalhou, ele vivia de seu estomago privilegiado, diferente das outras pessoas ele não sustentava seu estomago, era sustentado por ele; sua família era grande, pois tinha onze filhos e para sorte da humanidade eles comiam pouco, porque se saíssem ao pai não sobraria comida para ninguém.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA