GRILEIROS

GRILEIROS

Quem via os componentes daquela família desfilando pelas ruas da cidade de São João do Riacho, se encantava com suas roupas lindas compradas na capital e seus modos elegantes, mas nem um pouco encantado com seus narizes empinados, sua arrogância e seus ares de superioridade em relação aos demais mortais.

Eles se julgavam semi-deuses porque eram ricos e donos de extensas áreas de terras distribuídas em varias fazendas; os irmãos Veríssimo cuidavam bem de toda aquela riqueza, suas contas bancarias cresciam cada vez mais e seu orgulho e mania de grandeza cresciam na mesma proporção.

Suas esposas e filhos eram piores ainda, sempre exibindo roupas e jóias caras, rodando em seus carros importados eram antipáticos e grosseiros, tratavam mal as pessoas e por isso não contavam com amigos verdadeiros, só com bajuladores, gente que queria pegar as sobras de toda aquela ostentação.

Em São João do Riacho o povo se irritava com a prepotência daquela gente insuportável, mas se vingava comentando uma suja historia antiga que era contada e recontada pelos idosos do lugar, que a ouviram de seus antepassados e tinham muito prazer em repassa-la a seus descendentes que adoravam ouvi-la.

Essa era a escabrosa historia: os avós dos donos atuais daquela riqueza toda, eram donos de alguns alqueires de terras para os lados do rio das Antas, eles eram alfabetizados e seus vizinhos não e com essa vantagem eles passaram a ajuda-los em seus negócios, porque esses vizinhos possuíam mais terras que eles.

Com aquela boa vontade os Vêrissimo foram ganhando a amizade e confiança daquelas pessoas iletradas e ingênuas, mexe daqui e dali com a documentação daquelas terras nas mãos e com a ajuda de alguns funcionários públicos bem pagos conseguiram se apossar de tudo. deixando os legítimos donos com quase nada.

A grilagem das terras foi feita de uma maneira perfeita e os antigos donos jamais conseguiram provar coisa alguma; os anos passaram e o poderio econômico daquelas pessoas desonestas e desumanas só cresceu, até chegar aos atuais representantes da família, os mais velhos sabiam cuidar bem dos negócios.

Os futuros herdeiros nada faziam, não levavam adiante os estudos e também não se interessavam em aprender a lidar com a fortuna que seria deles um dia, só pensavam em gastar e se divertir, mas de repente os chefes da família envelheceram e morreram e os negócios e as responsabilidades passaram para os jovens.

Foi ai que chegou o desastre: sem cultura e ineptos para a gerencia de tudo aquilo, meteram os pés pelas mãos, continuaram com os gastos descontrolados e com a péssima administração, em pouco tempo foram forçados a vender a maior parte das terras e de grandes fazendeiros se tornaram pequenos sitiantes.

O povo daquela cidade assistiu a derrocada dos Vêríssimo e ninguém se comoveu, os amigos da fartura desapareceram e amigos verdadeiros eles não tinham, estavam pobres e sós; os descendentes dos que foram roubados no passado diziam: o pai rouba, o filho come e o neto passa fome; essa é a mais pura e comprovada verdade.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 23/09/2008
Código do texto: T1193498
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