O CAMINHO EXISTE É SÓ PROCURAR
O CAMINHO EXISTE É SÓ PROCURAR
Lina nasceu para incomodar, desde a mais tenra idade ela era uma pedra no sapato de toda a família, chorava a noite inteira, não o chorinho manso de um bebê normal, mas berros desafinados que mantinham acordados até os vizinhos, reclamar não levava a nenhum resultado, porque ainda não se descobriu um método eficiente para acalmar uma criança destrambelhada como aquela; durante o dia era aquela luta, pois a menina conseguia apanhar todas as doenças existentes no mundo: sarampo, catapora, coqueluche, cachumba e outras mais, sem falar nos vermes que atacavam de todas as maneiras, ela foi apelidada de Goiabinha de tão bichada que era.
A medida que Lina crescia cresciam os problemas não só de saúde , mas principalmente de comportamento: a criatura era o cão chupando manga, brigava com os irmãos, não respeitava os mais velhos, principalmente seus pais; com o passar do tempo ela conseguiu ser detestada por parentes, amigos da família, professores e por toda a comunidade onde vivia com sua sofredora família e para piorar a situação Lina era feia; sua maldade estava estampada no rosto, sua testa era estreita, a cabeça redonda era recoberta por cabelos grossos e pretos, tinha a boca enorme cheia de grandes dentes amarelados e para completar o desastre ela era dentuça.
Quando por milagre ela ria parecia uma loba pronta para atacar, o corpo seguia o rosto era de baixa estatura e gorducha, dessas gordas de seios imensos e costas largas, quadris estreitos e pernas curtas e finas, enfim toda sua aparência era desagradável a vista; Lina vivia emburrada de mal com a vida e o mundo e quando resolvia falar piorava tudo, sua voz era fanhosa e desafinada e como ela só sabia dizer palavras ofensivas raramente encontrava ouvintes, para não perder o costume ela continuava a apanhar todo tipo de doenças e se apegava a isso para maltratar e ofender as pessoas.
A mãe de Lina vivia desidratada de tanto chorar pelas maluquices daquela filha estranha e pensava o tempo todo em encontrar uma solução para aquele disparate com cara de gente; arranjar um marido para ela era uma missão impossível, nenhum homem em perfeita sanidade mental faria tal sacrifício; a sofredora mãe pensou muito e rezou mais ainda e encontrou a solução: era o convento de freiras, mas como convencer a difícil criatura a se tornar esposa de Cristo? mas a habilidosa senhora encontrou o caminho certo.
Primeiro começou a se queixar de dores no peito, tonturas e falta de ar; foi levada ao medico, tomou remédios e nada, cada vez se queixava mais e certa manhã Lina encontrou a mãe caída no chão da cozinha gemendo e sufocando, ai a rebelde moça se lembrou que aquela mulher lhe dera a vida, começou a chorar e pedir: não morra mamãe, faço o que a senhora pedir, fique boa depressa; ai se deu o milagre pré-fabricado, a senhora foi se acalmando, respirando melhor, parou de gemer e disse a filha: olha Lina estou muito doente, acho que tenho pouco tempo de vida e me preocupo com você.
Seus irmãos não se entendem com você e amigos você não tem, quando eu partir você ficará só, acho que seria uma boa idéia você ir passar uma temporada com as bondosas freiras do convento, se você gostar delas e elas de você, quem sabe esse será seu caminho; Lina concordou com a sugestão e foi alguns dias depois visitar um convento que havia bem perto de sua cidade, chegou lá com suas maneiras estranhas, suas grosserias e maldades, no começo as freiras ficaram alarmadas, mas resolveram aceitar como uma missão a ingrata tarefa de amaciar aquela pessoa terrível.
A Madre Superiora conversava longas horas com a intratável moça, falando da benção de se estar viva e sobre a felicidade de servir e ajudar as pessoas, a madre falava e depois ouvia as queixas de Lina e lhe oferecia consolo e amizade; a sabia mãe da moça acertou o alvo, pois em alguns meses ela estava mudada, continuava feia por fora, mas estava quase bela por dentro; dois anos se passaram, Lina tomou o habito e se tornou uma freira caridosa e gentil, claro que ela descobriu o estratagema usado por sua mãe para livrar-se dela, mas ficou grata porque descobriu que até para os rejeitados da vida, existe um lugar onde a paz poderá ser encontrada, é preciso apenas encontrar o caminho.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA