DONO DE TUDO DONO DE NADA
DONO DE TUDO, DONO DE NADA
Preto muito preto mesmo, ele brilhava ao sol e desaparecia nas sombras; além de preto e velho era pobre e vivia só, a solidão lhe confundia as idéias e andando pelas ruas da cidadezinha ele acreditava que era dono de tudo que havia a vista, inclusive as moças do lugar.
Na sua cabeça confusa se acreditava jovem e lindo, branco, louro e de olhos azuis e como proprietário de tudo e de todas passou a se tornar inconveniente e escandaloso; os dias se passavam e o Birinha se encrencando cada vez mais, batia nas portas e exigia comida e bebida, reclamava se as iguarias ou o tempero não estivessem a seu gosto.
Se as donas de casa se recusassem a servi-lo ele atirava pedras nas casas e se desmandava em palavrões; a situação se agravava a cada dia que passava e a paciência do povo daquele lugar estava no fim, as autoridades tentavam de tudo para convencer o infeliz Birinha da realidade, mas era tudo em vão, ele não queria entender a verdade.
A idéia de grandeza do infeliz só crescia e de repente ele conseguiu piorar as coisas, de bate boca por comida e bebida a situação se tornou violenta quando Birinha ficou atrevido com as senhoras e senhoritas, foi assim: ele batia nas portas e as donas abriam e quase morriam de susto, porque ele abria a braguilha da calça e exibia seus documentos.
A surpresa era enorme pois aquele farrapo de gente era super bem dotado pela natureza, ao ver tudo aquilo as donas abriam o maior berreiro, fechavam a porta botando a alma pela boca tamanho era o susto; algumas vezes ele deu sorte, porque os maridos ou pais das ofendidas não estavam em casa e ficava tudo por isso mesmo.
A boa sorte mudou de repente, em uma de suas investidas justo na casa de Jorjão, o cujo estava em casa e quando a mulher abriu o berreiro ele veio depressa e viu aquela coisa espantosa; Jorjão era um homem enorme, ferrador de profissão acostumado a segurar burro bravo e cavalo chucro, imagine a força que ele usou para segurar o desastrado Birinha.
Na primeira pegada ele jogou o infeliz no chão e partiu para o massacre, deu uma surra enorme naquele saco de ossos e o teria morto se a turma do deixa-disso não acudisse rapidamente; com um braço quebrado e o corpo todo lanhado, Birinha foi levado ao único hospital do lugar, onde foi remendado e ficou internado por muitos dias.
O medico falou com ele sobre aquela mania de se exibir para as senhoras, ele respondeu assim: oia doutor eu sou dono de tudo aqui, por isso tenho direito as moças também e vou continuar usando esses direitos, o medico encerrou o assunto; esses escândalos entre Birinha e a população continuaram por quase um ano, de repente veio a paz porque ele desapareceu e até hoje existe a duvida: será que alguém o matou? Ninguém sabe, ninguém viu.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA