BARRIGA CHEIA PÉ NA AREIA
BARRIGA CHEIA PÉ NA AREIA
Apareceu certo dia na Fazenda do Limoeiro um rapaz pedindo trabalho, era moreno, alto e magrinho, joelhos grossos, barriga saliente e estomago fundo como uma caverna, falava baixinho e ciciando por entre os dentes quebrados; seu Chico o dono da fazenda pensou: tá danado uai, se dou trabaio pra esse estrupício, vou té prejuiso na certa, esse ai malemá se guenta nas perna.
Para pensar melhor seu Chico que estava de pé se assentou nos calcanhares, acendeu um cigarro de palha que estava guardado atrás da orelha, olhou bem olhado para o rapaz ali de pé segurando um trapo de chapéu de palha nas mãos e depois de cuspir sonhadoramente sobre um cupinzeiro que havia ali perto, ele se decidiu e disse: oia aqui seu minino, ocê ta num dismazelo de dá dó.
Ocê num guenta tira nem meia tarefa no cabo do guatambu, mais já assuntei seu mau jeito; pensou novamente, fez cara de sabedoria e terminou: Ocê tem memo é fome, vô dá o trabaio, mas premero ocê tem de come; homem de decisões rápidas seu Chico se bem decidiu melhor agiu, gritou pela dona da casa e mandou servir quanta comida o pobre rapaz conseguisse comer.
O moço que jejuava a dias comeu para descontar o atraso e quando terminou estava com outra aparência, levantou o corpo, pegou logo uma enxada e começou a capinar uma rua de café e lá vai enxadada e mais enxadada, assim trabalhou animadamente pelo prazo de uma hora, parou de repente e virando-se para o fazendeiro que o observava admirado com tão boa vontade, simplesmente pediu as contas.
Seu Chico tomou um susto e perguntou o que havia acontecido e o rapaz respondeu tranquilamente: sabe patrão eu tava qui num pudia e agora tô qui num posso; assim dizendo enxugou o rosto com o velho chapéu de palha e seguiu estrada a fora, deixando o dono da Fazenda Limoeiro parado no meio do cafezal com a maior cara de espanto que esse mundo já viu.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EdA