TIBURÇA
TIBURÇA
Ele era um menino lindo, gorducho e esperto; aos quatro anos de idade ele era alegre, inteligente e muito vivo, mas era um destruidor por natureza, seus carrinhos e bolas resistiam pouco a seus trancos e arrancos, depois de destruir o que lhe pertencia ele partia para os pertences de sua irmã, ai estava armada a confusão.
A menina era alguns anos mais velha e ao contrario do irmão era cuidadosa, seus brinquedos estavam sempre limpos e bem guardados, loucinhas e panelinhas em seus armarinhos e suas bonecas sempre bem vestidas e penteadas com capricho, eram seu orgulho.
Mais velha e sensata, ela procurava conter os avanços do desastrado irmão contra suas preciosidades, mas quando se ausentava para ir a escola, ele se aproveitava e mexia em tudo apesar das zangas e palmadas de sua atarefada mãe; todos os dias era a mesma coisa: gritos e correrias assim que a menina voltava para casa.
O pestinha adorava arrancar os cabelos das bonecas e quebrar as loucinhas; a menina puxava as orelhas do irmão e a mãe estapeava os dois tentando acabar com aquela guerrinha domestica e diária, mas a encrenca não tinha fim; o pai dos dois vivia em cima do muro, não pendia nem para um lado nem para o outro, assim garantia seu sossego e agradava gregos e troianos como era seu costume.
Mas certo dia a gritaria foi demais até para o tranqüilo cidadão e ele teve uma idéia salvadora,: comprou uma boneca horrorosa de papiê-machê e deu ao dizendo: meu filho já que você gosta de mexer com as bonecas de sua irmã, comprei essa para você judiar a vontade, mas não mexa mais nas de sua irmã.
O praguinha gostou da novidade e botou o nome de Tiburça na bruxa e passou a usar todo seu tempo para torturar a coitada, furou seus olhos com um prego, arrancou-lhe um braço e uma perna e arrastava aquele monstrinho o dia inteiro pela casa e dormia abraçado a ele; estava garantida a paz da irmã e de seus brinquedos.
Tiburça resistiu por dois anos aos maus tratos do menino, mas de repente ele se lembrou que já era um homem de seis anos de idade; se livrou da Tiburça jogando o que restava da infeliz, em uma enxurrada que descia a rua em uma tarde chuvosa.
Foi-se a Tiburça e ficou o ajuizado cidadão entrado em anos, porque para ele seis anos era uma idade avançada.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA