O ELOGIO

Riu de boca aberta. Um escracho!... Gostosa a risada de Ermelinda. Um escândalo!... Bem casada – aparentemente – e aquele elogio tão escandaloso quanto a sua risada escrachada. E riu, riu muito, riu demais!...

– Lindíssima!... – caprichando na sensualidade.

Um “bonita” – para Ermelinda – já seria o máximo. Sabe, daquele “linda”, um grandessíssimo exagero. Não soa falso. De há muito, ninguém a elogiava assim. Bonita, no máximo!... O próximo ponto, sua parada. Imaginem só se o Eustáquio – marido nem tão extremado –, qual uma mosquinha, assistisse ao trocador com requintes de ousadia à passageira?... De há muito, ninguém a elogiava assim.

– Lindíssima!... – caprichando na sensualidade.

Folgado!... Se por perto o Eustáquio estivesse, daria um bom chega-pra-lá naquele trocador ousado. Folgado?... A parada!... Mulher casada é mulher casada! Eustáquio ainda pensa que as mulheres de quarenta e dois anos de idade – principalmente as casadas – não são tão mais esposas, já não podem dar o melhor dos caldos. Olha só quem fala: Eustáquio, um marido nem tão extremado.

– Lindíssima!... – caprichando na sensualidade.

Não se pula uma catraca roçando-se nas costas de uma mulher casada! Culpa da sua risada escrachada. Ousadia! Fingir ônibus lotado, uma freada, e cair – caprichando na sensualidade – com a boca pertíssima de onde acaba seu riso escrachado. A parada! Ermelinda preferiria mil vezes os dedos do tal trocador, com cheiro de dinheiro miúdo, do que os de Eustáquio, perfumados. A parada!...

– Lindíssima!... – caprichando na sensualidade.

O elogio, Ermelinda, e aquela sensação de felicidade inexplicável. Salta. Engole a risada. Se, logo mais, a emboçasse, certamente Eustáquio diria:

– Purgante!

Em casa, riu o necessário. Passou a noite toda com Eustáquio, como se bate um cartão de dancing. Como se a lua-de-mel fosse à esquina e voltasse, impediu, manhã seguinte, que Eustáquio fosse ao trabalho. Fechou as janelas e as portas até provar-lhe sem descanso. E serviu-lhe um café da manhã digno de marido.