LIA JABIRACA
LIA JABIRACA
Quando jovem Lia era uma morena alta, corpo bem feito e até bem simpática, o rosto não era lindo mas era passável; como boa costureira tinha uma boa clientela e apesar dos preços baixos da época, conseguia sobreviver com a ajuda da mãe que era lavadeira; Lia não tinha pai, pelo menos oficialmente e também financeiramente, porque aquele fulano nunca lhe dera qualquer coisa, nem mesmo uma balinha para adoçar a boca.
Mas de um jeito ou de outro ela se criou, no fundo no fundo ela odiava tudo e todos, mas mesmo assim arranjou um namorada, o único de sua vida; suas esperanças de casamento duraram até o mulato arranjar outra de menos idade e melhor família, e mesmo noivo dela se casou com a outra; durante um bom tempo ela se manteve afastada, odiando o mundo em geral e ao ex-noivo em particular.
Ela queria se vingar e tanto procurou que encontrou a melhor maneira para isso, ela procurou o antigo amor e levou o infeliz na conversa, em pouco tempo eram amantes com as bênçãos da velha mãe; elas formavam uma dupla imbatível, enquanto a velha ficava de olho nos vizinhos, ele entrava e se esbaldava com a já agora solteirona; com quase cinqüenta anos e com o ódio saindo pelos poros, ela se tornara uma mulher feia e mal humorada, era grosseira com todos menos com o amante, porque apesar da esposa dele o caso durou anos a fio.
A essa altura dos acontecimentos ela já era chamada de Lia Jabiraca, mal falada e mal amada, a fulana exigia atenção especial dos conhecidos que se afastaram, quando o amante morreu e também a velha mãe, ela se viu só e abandonada, mas não melhorou nada com os revezes da vida; as pessoas com pena tentavam ajuda-la, mas nunca receberam uma palavra de agradecimento, ela só sabia agredir e reclamar o tempo todo.
Com a velhice vieram as a doenças, seus pés torcidos pela artrite doíam sem parar e o coração que era só mau, agora estava também mal e a cada crise a Jabiraca se tornava pior: grosseira, mal dizente e mal agradecida era uma figura indigesta; de seu passado sujo ela fingia não se lembrar, posava de santa e de moralista, se divertia ofendendo e caluniando as pessoas, mas quando precisava de ajuda ela se valia das mesmas pessoas que maltratava.
Lia Jabiraca é a mais infeliz pessoa desse mundo, mas ela não sabe disso porque lá no seu modo torto de ver e entender as coisas, ela se julga infalível, só ela está sempre certa sobre tudo e assim se considera feliz e realizada; Jabiraca continua viva e insuportável, já está com mais de oitenta anos e dá veracidade aquele ditado que diz: Vaso ruim não quebra, e pelo jeito não vai quebrar tão cedo.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA