SONHO ENCANTADO

Ela acalentava um sonho: ser escritora. Desde pequena, lápis e papel na mão, queria escrever. Fez o primário com nota 10 em redação e zero em matemática. Conservou o mesmo boletim quando se formou normalista. Com o diploma não sabia o que fazer. Como ser escritora numa cidadezinha quase aldeia?!

Foi ser professora e, como as moças do seu tempo, queria casar, ter filhos, ser boa mãe e ótima dona de casa. Só que arranjou um marido fazendeiro e, com ele, partiu para a fazenda. O sonho quando é forte não morre fácil. Ela não nasceu para ser fazendeira e, sim, escritora. Para acalmar o turbilhão de desejos não realizados, as frustrações, começou a fazer um jornalzinho, todo elaborado a mão, cujo nome era “Violeta”, com artigos todos escritos por ela. Aos domingos, entregava-os na porta da igreja. Os temas eram pérolas simples e puras a formar um colar para a família. Com o passar do tempo, já com quatro filhos, conseguiu fazer a cabeça do marido para mudar de vida. “– Vamos para BH. Lá poderemos educar nossos filhos”. O marido acabou convencido. Vendeu a fazenda e, com o dinheiro no bolso, e toda família, estabeleceram-se em BH. Vida difícil! Ele só sabia ser fazendeiro e ela, voltada para o lar e filhos não tinha como ajudá-lo. O dinheiro, aos poucos, foi se acabando. O sonho cor-de-rosa foi tornando-se cinza... os problemas crescendo e ela adoeceu. Viu seu desejo de ser escritora rolar de vez por enorme despenhadeiro – sem volta! Ela adoeceu e, como o sonho, rolou também por um enorme túnel escuro sem retorno!

Todavia, deixou filhos, descendentes. Seus sonhos não morreriam; foram cristalizados numa herança atávica e, hoje, se realizam, não apenas em um ser, mas em muitos de sua descendência. Os sonhos quando verdadeiros e fortes, não morrem; eles ficam encantados!

Maria Eneida
Enviado por Maria Eneida em 18/09/2008
Reeditado em 19/10/2008
Código do texto: T1183699
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