VIVA O LADRÃO DE GALINHA
VIVA O LADRÃO DE GALINHA
Roubar galinhas era o esporte preferido de um grupo de rapazinhos desocupados da Vila de São João, não respeitavam nem o quintal do vigário; todas as manhãs alguém aparecia morrendo de raiva, para dar queixa na delegacia e o delegado Zurico perdia noites e noites de sono, para patrulhar as ruazinhas da vila mas em vão, os moleques eram sabidos e não se deixavam apanhar.
A situação piorou quando o quintal assaltado foi justamente o do delegado, dona Marica quase sofreu um ataque quando deu por falta de suas galinhas gordas e bem tratadas, ao ver a esposa aborrecida o delegado ficou uma fera e resolveu apanhar os ladrões de qualquer maneira; dias e noites se passaram e nada, os roubos continuavam e as reclamações também.
Até que o delegado Zurico teve uma idéia brilhante: se ele e seus soldados patrulhavam as ruas todas as noites, se São João só tinha uma praça e três ruas, o que devia estar em desencontro era o horário, porque a patrulha era feita da meia noite em diante e se os ladrões não eram encontrados, só podia ser que os assaltos eram praticados mais cedo, foi a conta.
O povo dormia cedo e os ladrões agiam antes das onze horas e depois dormiam tranquilamente; naquela famosa noite Zurico começou a patrulhar as nove horas e pegou a turma com a boca na botija, eram quatro moleques entre quatorze e quinze anos, levaram uns cascudos caprichados do delegado e foram levados para a cadeia, onde passaram a noite.
Na manhã seguinte a população se sentiu vingada quando foi acordada com toques de tambores, eram os ladrões que marchavam gritando : viva o ladrão de galinha e eram obrigados a gritar bem alto, senão levavam um tranco do delegado que vinha logo atraz; o estranho desfile parava de porta em porta devolvendo as galinhas roubadas.
Além de entregar as galinhas, eram obrigados a pedir desculpas as proprietárias das mesmas pelo mau jeito; aquilo virou festa e toda a comunidade veio apreciar o vexame dos moleques e a lição que estavam recebendo; ficaram alguns dias presos e depois foram soltos com um rosário de bons conselhos do delegado Zurico; proveitosa foi a lição, nunca mais voltaram a roubar, se tornaram homens honestos e ótimos pais de família,
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA