A VACA ENDOIDOU

Quando se ouvia o grito: vaca no laço,era uma correria danada em Tranqueiras, porque os vaqueiros conduziam todos os sábados uma vaca brava para o matadouro para o abate semanal, e o povo se precavia porque naquele lugar as vacas eram sempre perigosas e atacavam mesmo, mas as correrias terminavam sempre em uma grande brincadeira.

Aquela vila perdida lá nos cafundós de Minas, era composta por uma praça com a capela de Santa Efigenia padroeira do lugar, e umas quatro ruas sem calçamento; no verão o pó vermelho cobria tudo, mas quando as chuvas chegavam, a lama pegajosa era pior que o sufocante pó, pois a sujeira era muito maior.

As faladas vacas para o abate, vinham das propriedades rurais que circundavam a vila, entravam por uma das ruas e desciam até a praça de onde virando uma esquina, tomavam a direção do velho e imundo matadouro; sempre a mesma coisa e a mesma correria, gritos e risadas, um grande divertimento.

Durante anos nada mudou nessa rotina, e o alegre povo de Tranqueiras se divertia todos os sábados, com o transporte das vacas para o matadouro; as vezes o transportado não era vaca, mas sim um boi que no dizer das pessoas virava vaca, jamais alguém se machucou nessa perigosa brincadeira, mas um dia a coisa mudou.

Seu Chico Vesgo o delegado da vila, morava exatamente na esquina por onde passavam as vacas para o velho matadouro, sua casa era grande e a porta de entrada acompanhava o tamanho da mesma, que vivia sempre aberta como era o costume do pacato vilarejo, e com isso deu-se a inesperada visita.

Seu Chico, sua esposa dona Cota e seus oito filhos em volta da grande mesa da sala de jantar, se regalavam com um lombo de porco com feijão tropeiro divinos, quando ouviram uma gritaria na rua, e foram surpreendidos com a entrada de uma enorme e enfurecida vaca pela sala a dentro ; foi um susto sem tamanho.

Na correria pratos voavam, cadeiras caiam, a mesa virou espalhando comida por todos os lados, em poucos minutos só a vaca reinava soberana dentro da sala; os vaqueiros corriam de um lado para o outro tentando retirar a perigosa visita de dentro da casa, mas a bovina estava irredutível, estava lá para ficar.

Colocando a família a salvo, o delegado furioso exigia que a vaca fosse retirada, Zé Pedro o vaqueiro chefe se esforçava com a ajuda dos amigos, mas dona vaca escoiceava, chifrava e não saia de jeito nenhum; enquanto isso dona Cota se recuperava de um desmaio, para desmaiar novamente, era um perfeito caos.

Mas de repente chegou a solução na figura marcial do cabo Antero, comandante do pequeno destacamento de policia da vila; o musculoso mulato tentou enxotar a vaca e quase levou uma chifrada, deu a volta e puxou o rabo da encrenqueira e levou um coice, ele sacou o revolver e gritou: já chega sua bruaca, e atirou.

Estava encerrado o incidente, mas o povão não gostou dos tiros, disseram que aquilo era um absurdo, pois alguém poderia ter se ferido com alguma bala perdida, o cabo Antero não gostou e armou-se uma briga enorme, eram tapas e chutes para todos os lados, mas logo os ânimos se acalmaram, e tudo terminou em boas gargalhadas.

Maria aparecida Felicori{Vó Fia}

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