IRMÃ ESPERTA
IRMÃ ESPERTA
Aparentemente aquela família não tinha problemas, gente comum e ordeira participando normalmente da vida da comunidade; eram boas pessoas e não incomodavam ninguém, o pai Seu Baltazar era mecânico e trabalhava em sua modesta oficina o dia todo, dona Eponina a mãe era costureira das boas, cuidava da casa e costurava por encomenda para as senhoras da cidade.
O casal tinha seis filhas, a mais velha tinha vinte e dois anos, descendo de dois em dois anos vinham as outras irmãs, eram moças bem educadas e trabalhadoras, a mais velha se chamava Maura, a segunda Mirtes, a terceira Miriam, a quarta Marta, a quinta Melinda e a ultima Margarida; os nomes eram todos bonitos mas elas não.
A beleza de Miriam era cantada em prosa e verso, e as outras dividiam a beleza em porções desiguais, umas mais e outras menos, e Maura a mais velha com certeza recebera a menor porção, e com tamanha concorrência o certo era que ela ia sobrar e ficar solteirona, devagar as filhas de Seu Baltazar começaram a se casar e se casaram todas, menos Maura e Miriam.
Que Maura sobrasse já era coisa esperada por todos, mas a bela Miriam não arranjar marido parecia impossível, mas como o impossível as vezes acontece, o certo foi que aconteceu e o tempo indiferente continuou a passar; já com quase trinta anos Maura se mudou para a vizinha cidade de Três Rios, e alguns meses depois chegou uma noticia.
A incrível novidade era que a feia Maura estava noiva de um rico fazendeiro, todos queriam conhecer o noivo, mas ela nunca o levou para uma visita e quando a data do casamento foi marcada, Seu Baltazar e dona Eponina convenceram a filha a vir se casar em sua cidade natal, resolvido esse detalhe a família começou os preparativos para a festa.
Convites foram feitos, a igreja decorada e as doceiras se desdobravam para preparar tudo da melhor maneira possível; Os noivos chegaram na véspera do grande dia, o noivo causou espanto ao ser apresentado, porque era um rapaz bonito e muito simpático, e não tinha nada a ver com a feiosa noiva, as pessoas disseram: gosto não se discute.
Chegada a hora do casamento a igreja se encheu de parentes e amigos, esperando pela entrada do noivo que devia entrar primeiro, para esperar a noiva no altar, só que o personagem não entrava nunca e como os minutos passavam e ele não chegava, começaram os murmúrios; a noiva chegou e nada do noivo, então alguém foi até a casa onde ele estava hospedado.
Achando que o futuro marido sofrera um mal súbito, Maura se debulhou em lagrimas nos braços de dona Eponina, mas o pior foi quando o emissário voltou e dizendo que o moço bonito desaparecera com mala e tudo, foi uma confusão geral, desmaios, gritos e correria, ninguém sabia o que fazer, o jeito foi levar a noiva abandonada para casa e enxugar suas lagrimas.
Já em casa rodeada pelas irmãs Maura deu por falta de Miriam, quando foram procura-la não a encontraram e seu guarda roupas estava vazio, ai tudo se explicou: a bela Miriam roubara o noivo da irmã, completou-se o desastre e seu Baltazar queria ir atrás dos fugitivos, mas a turma do deixa disso o convenceu que uma violência seria pior.
Miriam se casou com o fazendeiro, teve muitos filhos e nunca se arrependeu do mal que fez a sua irmã, mas nunca mais foi recebida pela familia ou pelos amigos, todos se colocaram ao lado de Maura, mas isso não serviu de consolo para a pobre noiva abandonada, porque ela jamais conseguiu outro pretendente, viveu o que tinha de viver e morreu solteirona, cumpriu-se seu destino: Maktub como dizem os árabes.
ESTAVA ESCRITO!
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA