a um passo
Hoje quando acordei logo cedo fui à varanda. Porque estava a um passo de chover. Um frio gostoso de sentir na pele. E eu, a um passo de me jogar do prédio abaixo. Talvez tivesse combinado com a chuva pra quando caísse. Triste momento é pensar nessa hora, na hora de talvez morrer. Depois do atrito com o solo sentirei algo mais? Tive um sonho essa noite. Havia muitas perseguições. Mas o momento que ainda martela na mente foi ter quase matado uma mulher num estrangulamento. No início o instante contínuo da adrenalina é tão excitante que nem me dei conta que se tratava de um ser como eu: humano. Apertei o pescoço dela com toda a força. Depois pousou em mim um sentimento de impotência e ao mesmo tempo tinha a necessidade de saber quanto tempo duraria o processo de estrangulamento até a morte chegar. Era estranho sentir ao tocá-la seu desejo de viver. Mas não a matei, não cheguei até o fim. Chorei abraçando a mulher, ela era linda. Essa indagação sobre a duração do instante da morte é deprimente. Mesmo assim, vou me jogar. Corro para o quinto andar do prédio pra não existir a possibilidade de sobrevivência. Vou esperar a chuva cair. Ao primeiro pingo que ver a fazer o percurso da queda, me jogo.
Não choveu.
Mas estava decidido a fazê-lo.
E saltei pra cair.
Estava todo quebrado, mas ainda vivo. Você não sente nada, fica anestesiado e por um momento se pergunta estar mesmo vivo, por Ter sido tanto influenciado pelas idéias humanas sobre vida após a morte.
Quando voltei pra casa não pulei mais do prédio.