GABIROBA
GABIROBA
Naquela vila vivia um povo alegre e hospitaleiro, trabalhar até que trabalhavam, mas sem pressa, tudo era feito com calma e paciência; para que correr diziam, se um dia desses a gente vai morrer e deixar tudo ai, com essa filosofia e a boa alimentação natural, as pessoas garantiam uma vida longa e pobre, porque dinheiro não cai do céu.
Podia parecer que aquela vida mansa era totalmente desprovida de graça; para os padrões modernos viver sem televisão, computadores, telefones e tudo mais que a tecnologia oferece seria impossível, inaceitável e até mortal, mas cada coisa tem seu tempo certo para acontecer e acontecem, mas a hora dessas novidades todas ainda estava no nebuloso e incerto futuro.
E enquanto isso aquela boa gente se divertia a seu modo, com coisas simples e alegres; os adultos trabalhavam o dia todo em suas funções, e depois do jantar se reuniam com seus amigos, jogavam cartas, víspora ou simplesmente passavam o tempo conversando, rindo dos causos e piadas e as vinte e uma horas todos se recolhiam em suas casas, rezavam e dormiam.
As crianças pequenas brincavam em suas casas ao lado de suas mães, os adolescentes se juntavam em turmas, jogavam bola, pulavam amarelinha, cantavam cantigas de roda e armavam grandes correrias ao brincar de pique, e de Brasil contra Alemanha, mas claro que todos freqüentavam a escola da vila, e suas brincadeiras vinham depois das aulas.
A pequena escola da vila era freqüentada por todas as crianças e adolescentes em idade escolar, o curso era um só: curso primário, pode parecer pouco, mas era mais que suficiente para as modestas necessidades daquele lugar; aprender a ler era o sonho das moças, para lerem as românticas coleções de romances água com açúcar, tipo os escritos por Madame Dely.
Mas catar gabiroba era o esporte preferido por todos e por vários motivos, mas o melhor deles era os namoros nascidos nos campos onde se encontrava as apreciadas frutinhas, muitos casamentos foram arranjados por culpa delas, parecia que o sabor agridoce das gabirobas era afrodisíaco, por isso moças e rapazes enchiam os campos de alegria, não era sem motivo que aquele lugar se chamava Vila das Gabirobas.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA