A VELHA ESCOLA - PARTE 3

A VELHA ESCOLA - PARTE III - 2006

O casamento tinha que ser perfeito. Marcelo e Clara estavam, pela milésima vez, revisando a lista de convidados: antigos colegas de escola, colegas de faculdade, amigos de outros locais, família... Mas dentre todas as possibilidades de convidados, os antigos colegas de escola se mostravam os mais problemáticos.

Alguns eram praticamente impossíveis de encontrar, como Fernando, que Marcelo só chamaria por educação.

Mesmo assim, todas as tentativas foram feitas, ainda assim, além de Fernando, outros oito não foram achados.

No dia do casamento, Marcelo sentia como se toda a vida se resumisse a aquele momento, como se toda a sua trajetória se resumisse naquilo.

***

Casar na Igreja fora uma exigência de Clara, pois seus pais eram católicos e sonhavam que ela casasse na igreja.

Marcelo esperava ansiosamente pela entrada de sua noiva. Todos os convidados calaram-se, aguardando ansiosamente os primeiros passos de Clara dentro da igreja.

E então ela entrou. Sua beleza radiante iluminava todas as faces de espanto que permeavam a belíssima igreja em estilo barroco.

O tempo decorrido entre sua entrada, com seu pai, e o "pode beijar a noiva" quase não existiu. Tudo, para Marcelo, era só um borrão de felicidade, que começou a se tornar mais lúcido na festa, quando a conversa com uma antiga colega, Camila, se virou para a velha escola:

- Mas e aí, vocês têm tido notícia do colégio?

Perguntou ela.

- Não - respondeu Marcelo - Desde que saí de lá não ouvi mais falar.

Então Marcos, outro antigo colega, se aproximou:

- Eu tenho tido notícias do colégio.

E desatou a contar todos os fatos ocorridos na velha escola, desde o final do ano de 1997.

Assim que Marcelo, Clara, e todos os outros terminaram o terceiro ano, Fernando repetira novamente o segundo ano e saíra do colégio. Naquele mesmo ano, uma tragédia se abatera sobre a instituição: Um incêndia nos prédios do primário, que causara a morte de cinco alunos e da antiga diretora, Dona Alice.

A notícia não era exatamente das melhores, mas eram águas passadas. Pelo menos era o que pensava Marcelo.

Depois do incêndio, o colégio fechara por um ano, mas assim que foi reaberto, a maior parte do corpo docente voltara, inclusive o professor Lúcio, que ficara hospitalizado por semanas, depois de ter tentado salvar algumas crianças do incêncio.

Após esse eventos, o colégio se normalizara.

- Mas esse ano é o último ano do professor de história. Ele vai se aposentar. Porque você não tenta a vaga, Marcelo?

Terminou Marcos.

- É - disse Camila - Por que não? Já imaginou, voltar?

Marcelo não respondeu. Na verdade, já imaginara, sim, voltar, mas nunca considerara isso uma real possibilidade. Agora, isso ERA uma possibilidade.

***

A dúvida atormentara Marcelo quase até o final do ano. Tentar ou não a vaga como professor na Velha Escola, que era como ele a chamava sempre que a ela se referia.

Lembrava-se de todos os momentos, como flashbacks dolorosos de um passado distante, como se fosse a vida de outra pessoa.

As brigas, as paixões, o primeiro encontro com Clara... O primeiro encontro com Clara. O lugar guardava sua lembrança mais querida. Será que viriam outras?

Só havia um jeito de descobrir. No dia seguinte iria à escola. E conseguiria o emprego. Desse dia em diante, sua vida nunca mais seria a mesma, pois estaria retornando para a Velha Escola.

***

Fernando nunca ficou sabendo do casamento de Marcelo. Mas isso não importava. O que importava era o momento. E o momento era de executar mais um de seus... trabalhos.

G Heyerdahl
Enviado por G Heyerdahl em 12/09/2008
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