E A ESPOSA CADÊ?

E ESPOSA CADÊ ?

Ao voltar para o interior Paula sabia que tudo estaria diferente em sua cidade natal, pois ao deixar sua terra muitos anos atrás São Tiago do Alegre era coisa pouca, duas praças bem bonitas e floridas e algumas ruas calçadas com paralelepípedos, a igreja do padroeiro e uma igreja presbiteriana, poucas escolas e um comercio simples para uma gente simples, e só.

Aquela pequena cidade era quase uma fazenda, porque a maioria da população trabalhava no campo, alguns eram donos de terras e outros trabalhadores rurais, dentro da cidade o povo que não era lavrador se encarregava dos outros afazeres, e se virava de um jeito ou de outro para sobreviver, os fazendeiros mandavam os filhos estudar fora.

Mas estudar fora era um luxo para quem podia e não para quem queria, e essa situação obrigava os menos abonados a deixar a terra natal, e ir procurar longe o que não encontrava ali para seus filhos: cultura e trabalho; por isso Paula levou sua gente para a capital de seu estado, foram anos de trabalho e estudo, mas todos se formaram.

Idosos e cansados Paula e seu marido voltaram para São Tiago do Alegre, mas tomaram um susto ao verem sua pequena e simples cidadezinha, transformada em uma cidade de porte médio com ruas asfaltadas e limpas, e com mais de vinte mil habitantes, mas a mudança fora maior pois os hábitos mudaram também, a simplicidade se acabara,

A agora alegre e moderna São Tiago do Alegre, assumia posturas diferentes e até mesmo radicais, coisas inaceitáveis em outros tempos eram aceitas e consideradas comuns e normais; as festinhas familiares deram lugar a eventos ensurdecedores, com os jovens dos dois sexos disputando de copo na mão quem conseguia beber mais, ou cair primeiro.

Recuperada da surpresa Paula procurou se ambientar passando então a visitar os vizinhos, mas na primeira visita que fez foi novamente surpreendida com mais uma novidade, aconteceu assim: ao tocar a campainha foi recebida gentilmente por um bonito rapaz moreno e convidada para entrar, já na sala ele disse que sua esposa não estava.

O rapaz disse que a esposa voltaria logo, ofereceu uma cadeira e serviu um ótimo suco de abacaxi; bem acomodada Paula esperar pela dona da casa, e ficou por ali desfrutando da agradável prosa do moço até a chegada da moça, quando ela chegou foi outra surpresa porque era uma linda loira, muito bem educada e carinhosa.

Ao ser apresentada pelo marido, a jovem agradeceu a visita com beijinhos, Paula encantada com o casal passou a tarde toda conversando com eles, mas quando se despediu e saiu, foi recebida com risinhos das pessoas que passavam pela rua; sem entender ela perguntou a sua irmã que morava perto, onde estava a graça?

Foi informada que aquele casal era diferente, porque a linda esposa era homem também, e que seria melhor aquela visita ser a ultima,pois o povo da cidade ainda não se acostumara aquela novidade; Paula se zangou e disse: se essa comunidade é moderna o suficiente para aceitar todas as mudanças que vi por aqui, porque esse preconceito?

E continuou, vou voltar lá amanhã e levar um presente para aqueles jovens que me receberam com tanta cortesia e carinho, e vou convida-los para virem a minha casa onde serão muito bem recebidos, e quanto a você minha irmã, diga a essas pessoas que discriminação é coisa de gente ignorante, é feio e Deus pode não gostar.

Depois disso Paula entendeu que o povo de São Tiago do Alegre, ainda não crescera na medida do espaço físico de sua alegre e bonita cidade, porque não entendia as diferenças e o direito que as pessoas tem de fazer suas escolhas, e dispor de suas vidas a seu modo; o ser humano está nesse mundo para ser livre e feliz, cada um de seu jeito; para isso Deus nos deu o livre arbítrio.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 10/09/2008
Código do texto: T1171527
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