ESCÂNDALO NO HOTEL
ESCÂNDALO NO HOTEL
Aquele era um hotel pequeno, mas muito limpo; com suas paredes azuis barradas de cor de rosa e suas janelas de guilhotina pintadas de branco, inspirava confiança e prometia bom acolhimento aos viajantes que passassem por aquela cidadezinha, e o melhor de tudo era a famosa comida mineira servida lá.
Se o visual do prédio não enchia os olhos por sua simplicidade, a deliciosa comida servida ali servida enchia o estomago de qualquer pessoa de beatitude, era mesmo de se comer rezando: frango com quiabo e angu, torresmos sequinhos, tutu de feijão com couve e lingüiça e as demais maravilhas da farta cozinha mineira.
No quesito sobremesas aquele pequeno hotel era insuperável, seus pudins, compotas de frutas, doce de leite e todas as demais delicias conhecidas, eram as melhores da região; por todas essas vantagens o hotelzinho estava sempre lotado, e seu proprietário se ocupava o tempo todo em contar seus ganhos.
Seu Juarez o dono do hotel, era um gordo e alegre descendente de imigrantes italianos, já bem passado dos cinqüenta anos, era casado com uma bela turca chamada Jarina, a moça parecia filha dele tal a diferença de idade, jovem e vaidosa vivia ouvindo com gosto os elogios dos viajantes que freqüentavam o hotel.
O pacifico marido também se envaidecia com a juventude e beleza da esposa, e como confiava plenamente nela, ficava todo cheio de orgulho com os galanteios que ela recebia, mas tudo tem seu limite e quando chega o exagero chega também a encrenca, e foi isso o que aconteceu naquele acolhedor hotelzinho.
Um dos hospedes habituais do hotel, era um viajante chamado Astolfo, rapaz alto, moreno, de olhos verdes, de boas maneiras e um grande namorador; ele era namorado de uma das moças da cidade e todos já esperavam pelo noivado dos dois, quando aconteceu o pior escândalo que a pequena cidade já vira.
O crédulo marido não percebeu que o simpático Astolfo e sua Jarina, já haviam passado dos elogios inocentes para coisas mais reais, o romance do viajante com a bela hoteleira florescia debaixo do nariz do orgulhoso e descuidado marido; como os encontros aconteciam dentro do hotel ninguém percebeu nada.
Seu Juarez viajou para fazer compras numa cidade maior e avisou a esposa que voltaria dentro de três dias, mas resolveu voltar de repente, chegou tarde da noite do segundo dia e foi aquele horror, pois encontrou Astolfo e Jarina dormindo abraçados em sua própria cama, ele parou na porta sem acreditar no que via.
Quem viajava naquela época levava uma arma e seu Juarez tinha uma na cintura, mas ele esbarrou na porta ao sacar a arma e os dois safados acordaram, ela se escondeu debaixo da cama e o rapaz saltou pela janela nu como veio ao mundo; o hoteleiro atirou toda a carga da arma e errou todos os tiros.
As pessoas presentes no hotel acudiram aos estampidos e aos gritos da mulher, seguraram e desarmaram o irado homem, ninguém morreu e a coisa se tornou publica, o falatório tomou conta do lugar; a traidora Jarina foi levada por sua família para outra cidade, e o marido traído ficou por ali mesmo.
Ninguém sabia onde estava o viajante pelado, pois sua caminhonete continuava na garagem do hotel; alguns dias depois um enviado da firma onde ele trabalhava veio recolher o veiculo, e contou que Astolfo foi recolhido nu na estrada por um motorista caridoso, que lhe emprestou um cobertor para se enrolar e o levou até sua casa na cidade vizinha.
Meses depois o hoteleiro vendeu o hotel, e foi morar com sua turca adultera numa cidade da região; a ofendida namorada do mulherengo Astolfo, engoliu as lagrimas e o orgulho ferido e se casou com o primeiro candidato que apareceu, o sedutor viajante engravidou uma menor na cidade de Lavrinhas e foi casado a força, ameaçado de morte pelo pai da jovem; se deu mal porque naquela época, toda donzela tinha um pai que era uma fera.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA