BALAS QUE SALVAM
BALAS QUE SALVAM
Na Realeza não moravam nobres, porque o nome pomposo encobria apenas uma fazenda onde se plantava e colhia muito café, mas era uma beleza digna de ser a moradia de um rei, mas quem vivia lá era seu Capistrano, sua família e seus agregados; tudo lá era lindo e bem cuidado, o jardim sempre florido, o pomar cheio de frutas, os pastos verdes com o bonito e saudável gado leiteiro pastando, e os cafezais a perder de vista.
Seu Capistrano não era mais rico porque era um só, seus doze filhos eram criados aprendendo o valor , os benefícios e os malefícios do dinheiro, e quando ele dizia: cuidado com o dinheiro, eles sabiam que ele queria dizer: não gastem, dinheiro foi feito para se guardar e bem guardado; seus filhos moças e rapazes obedeciam, e só dispunham do estritamente necessário, o apego daquela família ao dinheiro era muito conhecido na região.
Aqueles fazendeiros adoravam receber visitas, mostravam com orgulho as belezas da Fazenda Realeza e serviam copos e mais copos de água fresca da mina, mas era só o que serviam, porque comer naquela casa ninguém jamais comeu nada, se a visita se demorasse até a hora do almoço, a família deixava para almoçar mais tarde, só para não oferecer a refeição aos amigos.
Mesmo com essas manias, a família Capistrano era apreciada e tinha muitos amigos, o jeito era rir e conservar pacificamente a amizade, pois no fundo eram boas pessoas; uma prima dos Capistranos, a Lucinha apostou quinhentos mil reis com uma amiga, que ia almoçar na Fazenda Realeza no domingo seguinte, ninguém acreditou na promessa da moça e já se divertiam com antecipação pelo seu fracasso.
O que ninguém sabia era que Lucinha já tinha um plano elaborado, e no dia marcado ela o colocou em pratica, foi assim: naquela manhã de domingo ela convidou um amigo para acompanha-la até a Fazenda Realeza, e servir de testemunha de sua vitória; na viagem para a fazenda ela parou em uma venda de estrada, comprou um pacote de balas e combinou o que fazer com elas com seu acompanhante.
Chegando a fazenda foram alegremente recebidos, e prosa vai, prosa vem, o tempo passando e como sempre só água foi servida para as visitas; a hora do almoço chegou e passou, a conversa continuou por um bom tempo, de repente o amigo de Lucinha retirou o pacote de balas do bolso, e ofereceu para todos os presentes que aceitaram, mas ela recusou e disse: eu não como doces antes do almoço não teve jeito, o almoço foi servido e a experta moça ganhou a aposta, e fez uma ótima festa para comemorar sua vitoria.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no Eda