A JANELA
Brasília, 08/09/2008.
Lá fora o barulho de carros... Fecho a janela, pois não suporto esse barulho ensurdecedor. São carros que roncam com o escapamento furado. Não sei por que não consertam! Como incomodam as pessoas com essa poluição insuportável.
E fico pensando quem são essas pessoas, aos milhares, que todos os dias passam indo e vindo pra lugar nenhum, numa rotina matemática. Quais serão seus sonhos? Cada um, por certo, terá sua família, e a labuta diária só tem o sentido de voltarem pra casa e se encontrarem com os rebentos e esposa, ou mãe, ou pai, ou alguém que se possa amar.
Mas há, quem sabe, também aqueles que trabalham não se sabe pra quê. Não têm família, não têm pra quem contar suas histórias, suas dores, lamentos, alegrias, sucessos. É o malogro personificado! Que pena! Afinal, o que é essa multidão? O que essas pessoas pensam e o que querem da vida?
Que importa essas respostas, não vão acalmar meu coração, pois agora estou envolvido na história do livro que estou lendo.
...entretanto, o tórrido calor me faz de novo abrir a janela. Assim como esse barulho a curiosidade me consome. Não agüento e volto à janela pra ver as pessoas que transitam pelas ruas. E então me vejo contando os transeuntes, até que canso, pois já contava mais de trezentos. De repente, algo inusitado aconteceu:
- Mas que loucura é essa????
- O quê que essas pessoas estão olhando pra minha janela???
- Incrível! Elas estão olhando pra mim!
De repente sinto uma vertigem em olhar para baixo. Então me apercebo que estou pendurado no peitoril da janela. Como eu vim parar aqui? Tento voltar pro meu quarto, mas não consigo, pois a janela está fechada. Toin.. toin.. paff...paff. Tento abrir a janela batendo devagar, mas a espessura desse vidro é muito grande e a posição em que me encontro não dá pra bater com o braço direito.
- Essa marquise é muito estreita! Como eu vim parar aqui, meu Deus?
Eu começo a tentar falar com as pessoas que estão lá embaixo, mas elas não me escutam. Vejo pessoas chorando, outras apavoradas diante da cena, outras gesticulando e gritando algo que não consigo ouvir, pois a minha janela fica no 13º andar, do prédio mais alto da Rua Cândido Mendes, na Glória.
A polícia e os bombeiros chegam. Elevam uma escada enorme e tentam me pegar. Mas a operação me deixa nervoso. Tento me jogar pra cima da escada e, por pouco a escapar, consigo então pegar na mão do bombeiro que, infelizmente, por estarem minhas mãos suadas, não deixam que ele me segure com firmeza. O bombeiro, apesar do esforço, não consegue me segurar e então...
...começo a cair...
São segundos que parecem uma eternidade. As primeiras lembranças são dos meus filhos... Passo a lembrar da minha infância, da minha mãe, do meu pai, irmãos, minha adorável companheira, nas histórias que vivi, minha infância irrequieta, adolescência de dúvidas e questionamentos, meu primeiro emprego, meu casamento, minhas alegrias e tristezas, minhas emoções. Tudo passa num milésimo de segundo... No último instante penso em Deus e peço perdão. Nesse lapso, meu cérebro com seus cálculos e memórias se apagam... PAFF!!!
PAFF!!! ENTÃO ACORDO!
O barulho era da queda do livro que estava lendo. Que pena! Meus óculos, que estavam em cima do livro, quebraram. Olho pro lado e vejo minha mulher, que desperta e reclama de eu estar roncando muito. Ela puxa o lençol pro seu corpo e pede pra eu virar de lado, pois assim eu ronco menos.
Brasília, 08/09/2008.
Lá fora o barulho de carros... Fecho a janela, pois não suporto esse barulho ensurdecedor. São carros que roncam com o escapamento furado. Não sei por que não consertam! Como incomodam as pessoas com essa poluição insuportável.
E fico pensando quem são essas pessoas, aos milhares, que todos os dias passam indo e vindo pra lugar nenhum, numa rotina matemática. Quais serão seus sonhos? Cada um, por certo, terá sua família, e a labuta diária só tem o sentido de voltarem pra casa e se encontrarem com os rebentos e esposa, ou mãe, ou pai, ou alguém que se possa amar.
Mas há, quem sabe, também aqueles que trabalham não se sabe pra quê. Não têm família, não têm pra quem contar suas histórias, suas dores, lamentos, alegrias, sucessos. É o malogro personificado! Que pena! Afinal, o que é essa multidão? O que essas pessoas pensam e o que querem da vida?
Que importa essas respostas, não vão acalmar meu coração, pois agora estou envolvido na história do livro que estou lendo.
...entretanto, o tórrido calor me faz de novo abrir a janela. Assim como esse barulho a curiosidade me consome. Não agüento e volto à janela pra ver as pessoas que transitam pelas ruas. E então me vejo contando os transeuntes, até que canso, pois já contava mais de trezentos. De repente, algo inusitado aconteceu:
- Mas que loucura é essa????
- O quê que essas pessoas estão olhando pra minha janela???
- Incrível! Elas estão olhando pra mim!
De repente sinto uma vertigem em olhar para baixo. Então me apercebo que estou pendurado no peitoril da janela. Como eu vim parar aqui? Tento voltar pro meu quarto, mas não consigo, pois a janela está fechada. Toin.. toin.. paff...paff. Tento abrir a janela batendo devagar, mas a espessura desse vidro é muito grande e a posição em que me encontro não dá pra bater com o braço direito.
- Essa marquise é muito estreita! Como eu vim parar aqui, meu Deus?
Eu começo a tentar falar com as pessoas que estão lá embaixo, mas elas não me escutam. Vejo pessoas chorando, outras apavoradas diante da cena, outras gesticulando e gritando algo que não consigo ouvir, pois a minha janela fica no 13º andar, do prédio mais alto da Rua Cândido Mendes, na Glória.
A polícia e os bombeiros chegam. Elevam uma escada enorme e tentam me pegar. Mas a operação me deixa nervoso. Tento me jogar pra cima da escada e, por pouco a escapar, consigo então pegar na mão do bombeiro que, infelizmente, por estarem minhas mãos suadas, não deixam que ele me segure com firmeza. O bombeiro, apesar do esforço, não consegue me segurar e então...
...começo a cair...
São segundos que parecem uma eternidade. As primeiras lembranças são dos meus filhos... Passo a lembrar da minha infância, da minha mãe, do meu pai, irmãos, minha adorável companheira, nas histórias que vivi, minha infância irrequieta, adolescência de dúvidas e questionamentos, meu primeiro emprego, meu casamento, minhas alegrias e tristezas, minhas emoções. Tudo passa num milésimo de segundo... No último instante penso em Deus e peço perdão. Nesse lapso, meu cérebro com seus cálculos e memórias se apagam... PAFF!!!
PAFF!!! ENTÃO ACORDO!
O barulho era da queda do livro que estava lendo. Que pena! Meus óculos, que estavam em cima do livro, quebraram. Olho pro lado e vejo minha mulher, que desperta e reclama de eu estar roncando muito. Ela puxa o lençol pro seu corpo e pede pra eu virar de lado, pois assim eu ronco menos.