DORME ANJINHO
DORME ANJINHO
Bom cidadão ele era, tinha um bom emprego durante o dia e a noite lecionava português em um bom colégio, era tão competente e culto que era um prazer conversar com ele: falava um português perfeito e sofria com o mau uso que as pessoas fazem de nosso idioma, um verbo mal colocado ou um simples erro de concordância lhe causava arrepios, mas como pessoa civilizada deixava passar sem corrigir o faltoso, sofria em silencio com as agressões que atingem a bela língua pátria.
Esmael era seu nome, e a coisa que mais temia era ser brindado com qualquer tipo de apelido, pois na sua opinião de professor de letras, era falta de respeito anular o nome de uma pessoa, por sorte ele escapou desse desastre, era professor Esmael e pronto; casado e pai de nove filhos , cuidava para que nada faltasse a sua grande família, mas como marido ele não era grande coisa por causa de seu único e devastador vicio: o alcoolismo.
Sóbrio o professor Esmael era educado e respeitável, mas quando se embriagava ele perdia as boas maneiras e o respeito e queria dançar, cantar, namorar e aparecer de todas as maneiras, isso magoava e ofendia sua calma e bondosa esposa, seus vexames eram motivo de risos e brincadeiras dos parentes e amigos, cada um tinha uma historia para contar das aventuras e erros de Esmael; no trabalho ele era um exemplo de bom comportamento, jamais foi trabalhar embriagado e tratava chefes e colegas com respeito e era também respeitado.
Motorista até que era bom quando estava sóbrio, mas era só beber e a encrenca estava armada, Esmael cometia todas as infrações possíveis e impossíveis no transito, e a mais divertida foi a seguinte: ele seguia para sua casa depois de dar uma aula no colégio, estava cansado, com frio e era sexta feira, resolveu parar em um bar para tomar só uma dose para se aquecer e iria para casa , mas uma dose puxa outra e mais outra e acabou se embriagando para valer, mal se mantinha de pé quando entrou no carro e saiu dirigindo aos trancos e barrancos.
Rodou por algum tempo, mas um sinal de transito fechou e ele parou, o sinal abriu e os carros rodaram e Esmael continuou estacionado, os motoristas que estavam atrás dele buzinavam, xingavam e ele não se movia, foi-se formando um engarrafamento monstro e nada; um guarda apareceu e o abordou dizendo: senhor o que está acontecendo? Ele não respondeu e o guarda pensou que ele estava morto, mas de repente ele se acomodou melhor e continuou a dormir, a bebida agiu para valer e ninguém conseguiu acorda-lo.
O carro foi guinchado e o dorminhoco foi levado preso para a delegacia mais próxima, dormiu o resto da noite e ao acordar e reparar nas grades da cela gritou assustado: uai... quem botou grades no meu carro, socorro , me tirem daqui, os policiais riam e ele gritava sem entender nada, até que se acalmou e entendeu que estava na cadeia, ficou muito envergonhado e pediu para telefonar para Sonia sua esposa, ela veio muito zangada e o levou para casa debaixo de xingamentos, o vexame se tornou publico e ele jurou nunca mais beber, mas o juramento só valeu até a primeira sexta feira.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA