FEIOS OU BONITOS

FEIOS OU BONITOS

As vezes as pessoas são julgadas por um padrão de beleza injusto e preconceituoso, porque de um jeito ou de outro todos são bonitos, cada um a sua maneira tem seus encantos pois bonitos são os olhos de quem vê, se uns gostam de loiras de lindos olhos azuis, outros se encantam com morenas de profundos olhos castanhos e tem quem ame mulatas ou negras de brilhantes olhos de ébano, e isso vale para o sexo oposto também, porque as mulheres fazem suas escolhas da mesma forma, e gosto não se discute.

É impossível existir alguém que seja bonito ou feio na opinião de todos, em beleza não existe unanimidade porque o que é bonito para uns é feio para outros e isso é normal e aceitável, mas para Belezura era diferente porque ela era de uma beleza indiscutível e todos concordavam que ela era linda e ponto final, Belezura se chamava Anita Eulália, mas ninguém se lembrava desse detalhe porque sua beleza lhe trouxe o apelido, e seu nome foi definitivamente esquecido.

Durante a infância Belezura era o encanto daquela cidade, em todos os eventos ela era a estrela maior, as noivas a queriam como dama de honra e se a data de dois casamentos coincidissem, uma das noivas mudava a data só para ter Belezura como dama, nas novenas do mês de maio ela era o mais lindo anjo da Coroação de Nossa Senhora, durante todas as noites de coroação ela conduzia a coroa da Virgem Maria e isso causava um certo desconforto, porque as demais meninas sonhavam com aquela honra, mas ninguém podia competir com aquela beleza sem par.

O tempo passou e a menina cresceu, mas a beleza cresceu com ela ou mais que ela, e os rapazes disputavam sua atenção e chegavam a brigar por sua causa, isso incomodava sua família por causa dos escândalos e falatórios, e resolveram casa-la com um primo que morava em uma cidade vizinha, mas ela tinha um namorado secreto e não queria se casar com o tal primo de jeito nenhum, ela chorou, gritou e ameaçou se matar e nada adiantou, sua família era árabe e por tradição os pais escolhiam os maridos das filhas, e a ela só restou obedecer.

Com a mudança para a cidade vizinha depois do casamento Belezura se conformou, vivia aparentemente feliz e em paz, teve dois filhos e tudo corria bem até ela se encontrar com o antigo namorado; a velha paixão renasceu e os dois se tornaram amantes, como ela ia sempre a uma chácara do marido buscar legumes e outros produtos todas as quartas feiras, combinaram os encontros lá, a chácara ficava entre as duas cidades e ninguém desconfiou de nada, porque o amante comprou o silencio do casal de caseiros com um bom dinheiro e esse arranjo durou quase dois anos.

Mas certa quarta feira assim que ela saiu de casa, armou-se uma enorme tempestade, e o zeloso marido foi busca-la e ai deu-se a tragédia: com o barulho dos ventos e trovões, os amantes não ouviram o carro chegar e foram pegos em flagrante, estavam nus e na cama, o marido traído carregava sempre uma arma e atirou primeiro na linda esposa, mas o ódio era tanto que ele descarregou a arma toda a carga da arma nela, enquanto isso o amante correu pra fora do quarto e sumiu no meio da chuva junto com o casal de caseiros que ao passarem pela cidade , avisaram ao delegado e sumiram no mundo.

Ao chegar a chácara o delegado encontrou Belezura morta, e o marido em estado de choque com a arma descarregada na mão, prendeu o infeliz e mandou avisar a família da falecida; foi um grande escândalo nas duas cidades, o corpo da moça foi levado pela desolada família para ser sepultado na terra natal, toda a população compareceu ao velório uns por amizade e outros por curiosidade, e mais uma vez a opinião foi unânime: jamais se viu ou se verá , uma morta tão bonita como Belezura.

Maria Aparecida Felicori{Vó fia}

Texto registrado no EdA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 08/09/2008
Código do texto: T1168241
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