O GIGOLÔ
O GIGOLÔ
Muito jovem ainda Pedro Glostora foi para São Paulo para ganhar a vida, claro que trabalho não constava de seus planos, já com mais de vinte anos sempre vivera encostado nos parentes em sua cidadezinha natal, a decisão de se mudar foi tomada depois que tios e primos começaram a reclamar de sua vadiagem.
Chegando a São Paulo ele não procurou trabalho, procurou parentes e conterrâneos: chegava de leve, almoçava, jantava, pedia para dormir uma noite e ia ficando até o hospedeiro se cansar e bota-lo para correr, ai ele procurava outro e assim ia se virando e escapando do trabalho.
Ele costumava ficar em portas de mercados prestando pequenos favores as senhoras, e numa dessas ele conheceu uma dona já bem passada dos cinqüenta anos, que se encantou com sua elegância e boas maneirar e o levou para sua casa; a velhota era bem de vida, tinha um bom apartamento e bastante dinheiro e ele foi se ajeitando, e durante quase trinta anos ele viveu muito bem as custas da madame.
Era um ótimo arranjo, ela o sustentava e ele lhe prestava alguns serviços particulares e a velhota ficava feliz, mas ela era viúva e tinha dois filhos que odiavam aquela situação, mas como já eram casados e não moravam com a mãe nada podiam fazer, apenas se afastaram e aguardaram os acontecimentos.
A espera foi longa, mas eles se garantiram exigindo que a velha ficasse apenas com o uso fruto dos imóveis que possuía, e quando Glostora tentou convencer a senhora a passar um dos apartamentos para o nome dele, o estrago já estava feito, a cidadã não era nada burra, lhe dava casa, comida, roupas e calçados a vontade, mas não lhe dava dinheiro grande e ao morrer de repente, a dona o deixou pobre como quando o adotou.
Os filhos dela não perderam tempo, terminado o velório jogaram o vadio e sua mala no olho da rua; ele ainda tentou conseguir uma indenização por serviços prestados, mas a família era poderosa e o ameaçou de prisão ou até coisa pior, e ai o jeito foi sair de fininho e voltar a antiga rotina de procurar parentes e conterrâneos.
Pedro Glostora colecionava endereços retirados de catálogos telefônicos, e variava de ruas e de bairros; dinheiro para condução ele pedia a seus hospedeiros forçados que lhe davam com o maior prazer, pois só assim se livravam dele, com essa temporada de gigolô ele envelheceu quase trinta anos, tentou arranjar outra velha assanhada , mas não conseguiu porque seu tempo de gigolô se acabara para sempre.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA