CARONA ASSUSTADORA
CARONA ASSUSTADORA
Rafa, Samú e Nono eram amigos inseparáveis, juntos se divertiam muito e não perdiam nenhum acontecimento em sua cidade, ou nas outras cidades da região sul mineira, mas para manterem o habito de aproveitar tudo em qualquer lugar era preciso viajar, e para viajar era preciso dinheiro, esse era o problema, porque os alegres rapazes estavam sempre com pouco ou nenhum, mas o que faltava em haveres sobrava em criatividade.
Quando descobriam alguma festa interessante, eles ficavam espertos e faziam qualquer negocio que rendesse algum lucro:lavavam carros, aparavam gramados, catavam e vendiam garrafas vazias, mas como essas atividades rendem pouco, eles reservavam o que conseguiam para comida e bebida, se dirigiam para as estradas e com os polegares levantados pediam caronas, e como eram jovens de boa aparência e com caras de respeito conseguiam sempre.
Eles pertenciam a boas famílias de classe media e eram estudantes, mas para suas farras ninguém lhes dava dinheiro e eram obrigados a se virar, o que faziam alegremente porque estavam sempre de bem com a vida e perder as festas eles não queriam; assim iam passando o tempo e com seu jeitinho se divertindo para valer, até que aconteceu sua ultima e desastrada carona, que foi apavorante no inicio e muito engraçada no final.
Na vizinha cidade de Lavras ia acontecer um animado rodeio universitário, com forrós, barraquinhas, muita cerveja e muita musica sertaneja, e os três amigos jamais perderiam tal evento, como sempre arranjaram um dinheirinho e de carona foram para a festa, passaram o dia todo apreciando os peões domando cavalos e touros bravos, e a noite foram para as barracas onde cantaram, dançaram, comeram e se encharcaram de cerveja.
Mas como tudo chega ao fim, já com o dia amanhecendo a festa acabou, e os três amigos estavam sem dinheiro e a pé, foram caminhando até a rodovia e como de costume pediram carona, mas os carros passavam e não paravam, até que lá pela metade do dia passou uma Kombi caindo aos pedaços e o motorista parou, eles se assentaram no piso porque o único banco da Kombi era o do motorista, mas para eles estava ótimo porque estavam com fome e queriam chegar logo em casa.
O cacaréco rodou pouco mais de um quilometro, parou e o motorista começou a procurar algo debaixo do banco, os rapazes pularam fora e correram pensando que o motorista procurava uma arma para assalta-los, mas o pobre homem gritava: voltem e me ajudem, a Kombi está pegando fogo, eles voltaram e começaram a jogar terra nas labaredas, e tentavam abafar as chamas com suas jaquetas, porque o que o motorista procurava debaixo do banco era o extintor, que por azar estava vazio, e o incêndio só piorava e ai chegou um carro com cinco senhores de ternos e gravatas.
Os senhores vieram solícitos até perto da velha Kombi em chamas deram-se as mãos e começaram a orar, eram evangélicos que voltavam de uma reunião e pelo jeito não queriam sujar os ternos, Rafa usara o celular e chamara os bombeiros, quando afinal chegaram a coitada da Kombi era um monte de ferros retorcidos, e seu dono chorava desesperado confortado pelas orações dos crentes, e os três amigos deitados no chão quase mortos de cansaço, com as roupas imundas e em frangalhos, estavam novamente a pé e com o dobro da fome.
Por sorte passou um ônibus e o motorista com pena, resolveu levar os rapazes sem cobrar as passagens até sua cidade; os jovens passado o susto voltaram a suas brincadeiras, e Nono tirou o que restara de sua calça ficando só de cueca, claro que ele pretendia vestir-se novamente, mas Samú pegou o que restava da avariada calça e atirou pela janela e quando o ônibus parou na rodoviária, Nono desceu e foi agarrado pela policia que estava por ali, e levado preso por atentado ao pudor.
Rafa e Samú foram solidários e acompanharam o amigo até a delegacia, seus pais foram chamados e resolveram a encrenca da melhor maneira possível, mas saíram de lá cuspindo marimbondos, chegando em casa proibiram os três festeiros de pegar caronas e de caçarem divertimentos nas cidades vizinhas; depois dessa eles se acomodaram e aprenderam a se contentarem com o pouco divertimento e as poucas festas de sua cidade, aquela foi a ultima carona que o trio de amigos pegou.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
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