DESEJOS

DESEJOS

Antigamente acreditava-se que as mulheres grávidas tinham que serem atendidas em todos os seus desejos, por mais estranhos que pudessem parecer, e as senhoras usavam e abusavam desse suposto direito, os coitados dos maridos se viravam em dois para atender a todos os pedidos indiferentes ao horário ou ao estado do tempo; era uma loucura, e ninguém se queixava por medo das línguas das fofoqueiras de plantão, e as exigências cresciam na mesma medida das barrigas, era um horror.

Todas as mulheres daquele tempo ao engravidar, passavam a infernizar a vida de seus maridos com seus pedidos absurdos, algumas se contentavam com comidas, doces e frutas diferentes, mas outras descontentes com as agruras da gravidez, abusavam e exageravam ao extremo com seus pedidos, era uma forma de vingança disfarçada contra os maridos que levavam sempre a melhor parte da procriação; e para agravar o problema, ainda haviam as sogras, sempre prontas a dar mão forte as filhas se os genros se negassem a atende-las.

E as historias mais absurdas aconteciam por causa dessa crendice, mas dona Herminia era a campeã desses desejos dificeis e estranhos, e seu marido o pacifico e bem intencionado seu Lucas, jamais se queixava e atendia prontamente a todos eles; certa vez caiu uma chuva violenta em toda a região, e a enchente tomou conta dos cursos de água daqueles lados, mas dona Herminia resolveu se desesperar de desejo de comer uma goiaba que estava no alto de uma goiabeira, mas estar no alto era o menor dos problemas.

O pior era que a casa estava de um lado e a goiabeira do outro de um ribeirão, que no momento se transformara em caudaloso rio por causa da enchente , mas ela não podia esperar que as águas baixassem, e seu Luas foi obrigado a se arriscar nadando até a tal goiabeira, e quando voltou exausto e triunfante com a cobiçada goiaba nas mãos , ela estava se sentindo mal e se recusou a come-la, mas pior foi alguns dias depois quando a dona teve um novo desejo, e disse ao paciente marido: Lucas eu estou com um desejo enorme de comer um pedaço da barriga de sua perna, só um pedacinho bem.

Pela primeira vez seu Lucas se zangou, e gritou: essa historia de desejo já foi longe demais, você não vai comer pedacinho nenhum de minha perna sua canibal, e de hoje em diante vou dormir no quarto de hospedes, para não ser mordido durante a noite, e por minha conta você nunca mais fica grávida, contente-se com os filhos que já tem sua maluca; os meses se passaram e a esperada criança nasceu, e seu Luas continuava ocupando o quarto de hospedes, mas o tempo é um santo remédio para tudo, ele voltou para o quarto de casal e ainda tiveram mais quatro filhos, dizem as más línguas que na perna dele faltam quatro pedacinhos.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 05/09/2008
Código do texto: T1163109
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