MOSQUITOLANDIA
MOSQUITOLANDIA
Cidade pequena porem decente, São Sabino da Encruzilhada era limpa, alegre e com ruas bem calçadas, era o tipo do lugar onde o ser humano podia se sentir abençoado e feliz; o ar era tão puro que as pessoas as vezes chegavam a se engasgar com ele e diziam alegremente: bendito seja Nosso Padroeiro que nos dá o privilegio de respirar esse doce ar da serra; ali a vida corria mansamente e sem grandes sobressaltos, apenas ocasionais bebedeiras e uma ou outra briga, só para não perder a fama de povo valente.
As pessoas daquele Cantinho do Céu, tinham o costume de criar porcos no fundo dos quintais, mas era coisa pouca porque os criadores eram pobres, e pobre que é possuidor de um porco já se sente remediado; a razão de tanto entusiasmo por ser possuidor de um porco, é que do gostoso animal só não se aproveita o ronco, porque do resto se aproveita tudo, até o esterco e os ossos , que se transforma em um excelente adubo.
De repente apareceu uma lei municipal proibindo a criação de porcos no perímetro urbano, e aqueles pobres criadores de um solitário ronca e fuça foram obrigados a se desfazer de sua pouca criação, e o fizeram com a maior boa vontade porque eram pobres, mas bons e esclarecidos cidadãos e como era para o bem estar da comunidade eles se desfizeram dos porcos, desmancharam os chiqueiros, todos ficaram contentes e o assunto foi logo esquecido.
Mas o tempo foi passando, e repentinamente a paz do bucólico lugar foi quebrada, sabem por quem? Por uma nuvem de mosquitos, e o povo enojado passou a lutar contra eles de todas as maneiras possíveis, os estoques de inseticidas, de velas de andiróba e de citronela da sofredora cidade, se esgotaram sem nenhum resultado parecia que aqueles mosquitos eram vacinados pelo próprio capeta, e nada funcionava contra eles.
A comunidade derrotada e infeliz, passou a tentar descobrir onde era o berçário daqueles insetos desgraçados, mas nada conseguiram, porque se não existem chiqueiros no perímetro urbano, se aparentemente todos cumprem a lei, de onde vem essa praga voadora? Mas quem sabe um dia desses, alguém resolva medir o tal perímetro urbano, e descubra dentro dele não um solitário ronca e fuça, mas um mangueiro cheio deles.
Aqueles mal falados mosquitos aborrecem demais a comunidade de São Sabino da Encruzilhada, mas o apelido que a agora entristecida cidade levou das comunidades vizinhas aborrece muito mais, porque ninguém quer ser cidadão da cidade de Mosquitolandia: mas o melhor é irem se acostumando, porque se o criatório de mosquitos for coisa de rico vai continuar tudo no mesmo, porque os ricos se colocam sempre acima da lei, cumprir as leis é coisa da pobre.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EdA