O ENTREGADOR DE CONVITES

O ENTREGADOR DE CONVITES

De repente Pedro Glostora voltou a Belo Horizonte e mais uma vez procurou abrigo na casa do bondoso primo José que o recebeu com a alegria de sempre, mas Nana a filha costureira se zangou e não o queria lá de jeito nenhum, José acalmou a moça e prometeu que o Glostora ficaria em um quartinho dos fundos da casa e lá não entraria de maneira alguma; o finório se ajeitou no tal quartinho e José lhe levava as refeições e mais uma vez ele foi ficando e estaria lá até hoje se não houvesse aprontado feio com uma sobrinha do José.

Maria a sobrinha do José era uma pessoa doente e se movia com dificuldade, como estava preparando o casamento de sua filha, precisava sempre de ajuda e o Pedro resolveu se aproveitar da situação, se oferecendo para ajudar: ia as compras, entregava convites, era um perfeito menino de recados e nesse vai e vem ele sempre faturava alguns trocados, Maria bem que percebia os enganos nos trocos e como era sempre pouca coisa, deixava passar como se não percebesse.

A data do casamento estava se aproximando e a mãe da noiva precisava mandar um convite para uma pessoa importante, figura do alto escalão do governo do estado e grande amigo de Maria, pois fora seu aluno no curso primário e adorava a professora agora aposentada; uma vez por mês o ex-aluno visitava a velha mestra e lhe levava flores, doces, frutas e outros agrados, por isso o convite precisava ser entregue em mãos, mas o pai e os irmãos da noiva se recusavam a procurar o ilustre doutor em seu gabinete no Palácio da Liberdade, foi ai que entrou o Glostora.

Ele se ofereceu para entregar o falado convite e como estava sempre muito limpo, de terno, gravata e sapatos polidos, sua oferta foi logo aceita e lá foi ele de pasta na mão resolver o assunto, quando voltou disse que o doutor agradecera e até mandara lhe servir um cafezinho; alguns dias depois chegou um bonito presente para a noiva e uma linda caixa de bombons para a mãe da noiva, com um cartão de desculpas do figurão por não poder comparecer ao casamento, pois estava saindo de viagem para a Europa e não voltaria a tempo para a cerimônia.

Casamento realizado, algum tempo depois o ex-aluno de Maria apareceu para a costumeira visita e prosa vai, prosa vem e ele disse: dona Maria a senhora não se preocupe com aquele empréstimo, não precisa me reembolsar; Maria ficou estarrecida porque entendeu logo que aquilo era coisa do Pedro Glostora e dadas as explicações ficou tudo claro, o safado entregara o convite e pedira quinhentos reais ao doutor em nome de Maria, o ex-aluno achou muita graça no episodio, mas a velha professora não achou nada engraçado, quase morreu de vergonha e insistiu em pagar o prejuízo, mas o amigo não aceitou de maneira alguma.

Claro que o Glostora já estava longe quando a coisa foi descoberta, pois era seu costume aprontar e correr; mas o tempo vai passar e ele voltará com certeza, é só esperar.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 05/09/2008
Código do texto: T1162858
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